Em seu primeiro pronunciamento após a derrota do presidente Jair Bolsonaro(PL) nas urnas, o ministro da Economia, Paulo Guedes, falou sobre o teto de gastos e a questão da fome no Brasil, dois temas trabalhados pelo governo de transição do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). No discurso, Guedes procurou humanizar o chefe do Executivo, que também pouco apareceu desde o segundo turno eleitoral.
"40 milhões de pessoas passando fome, onde estavam essas pessoas que não descobriram antes? Estavam já passando fome no governo deles [PT], mas nós descobrimos os invisíveis. É válido para ganhar a eleição, mas já ganhou, cala a boca, vai trabalhar, vai construir um negócio melhor", disse em evento do Ministério da Economia para celebrar os 30 anos da Secretaria de Política Econômica.
O 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, demonstrou que a pandemia agravou a fome no Brasil.
Em 2022, o país tem 33,1 milhões de pessoas nessa situação de falta de garantias de alimentos, o que representa 14 milhões de brasileiros a mais em insegurança alimentar que em 2020.
Teto de gastos. O ministro da Economia ressaltou a importância de manter o teto de gastos, a regra que controla os gastos de acordo com a inflação, mas admitiu que a gestão de Bolsonaro furou o teto "em situações excepcionais em que o teto foi mal construído".
Se tem lareira em casa, é bom ter chaminé, um teto mal construído, se pegar fogo na casa morre todo mundo asfixiado. O teto foi mal construído, por exemplo, em 2019, chegamos com a mentalidade mais Brasil para transferir recursos para estados e municípios, mas não podia porque estourava o teto, mal construídonone
No entanto, o governo Bolsonaro não abriu excepcionalidades apenas em 2019. Segundo um levantamento feito pelo economista Bráulio Borges, pesquisador do FGV IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas) a pedido da BBC News Brasil, os gastos além do teto ao longo dos quatro anos do atual governo somam R$ 794,9 bilhões.
Nas críticas ao novo governo Lula, Guedes disse que a gestão Bolsonaro disparou "o maior programa social que já houve, e com responsabilidade fiscal", em referência ao Auxílio Brasil —o programa é o Bolsa Família, que foi rebatizado por Bolsonaro e agora voltará ao nome original.
O ministro da Economia hoje também repudiou falas de Lula, que agitaram o mercado financeira essa semana: "Que historinha é essa de conflito de social e fiscal? Isso revela ignorância, desconhecimento, incapacidade técnica de resolver problemas".
Ontem, o presidente eleito defendeu a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) da Transição, a forma legal que o governo eleito encontrou para abrir espaço no orçamento federal para aumentar o salário mínimo acima da inflação e manter o Auxílio Brasil —que deve voltar a ser chamado de Bolsa Família— em R$ 600 no ano que vem.
Lula afirma que a PEC é uma "responsabilidade social" para combater a fome e a desigualdade social. Se a proposta for aprovada no Congresso, Lula conseguiria "furar o teto de gastos" porque estaria autorizado a conceder aumentos acima da inflação, justamente o limite imposto pela regra do teto de gastos.
Acenos a Bolsonaro. Desde a derrota para Lula, Bolsonaro está sumido de eventos públicos, das próprias redes sociais e até do "cercadinho", onde costumava ir diariamente para conversar com apoiadores em Brasília. Aliados dizem que Bolsonaro está "abatido" e "ainda assimilando a derrota", além de estar tratando uma ferida na perna.
No discurso de hoje, Guedes fez uma espécie de prestações de contas e destacou os feitos da gestão do atual presidente, apesar de ter insistido na mentira de que Bolsonaro foi responsável pela criação do Pix.
No pronunciamento, o ministro também buscou humanizar o chefe do Executivo: "O presidente é torcedor do Palmeiras, não é esse ser desumano que pintaram. É um apaixonado, patriota, determinado, foi transformado em demônio".
Em outro momento, Guedes disse que Bolsonaro "é uma força". "Apesar das injustiças, parcialidades, narrativas, o amor à pátria e respeito à democracia são maiores. O presidente possivelmente vai liderar uma banca de oposição construtiva para preservar nossas liberdades, de imprensa, opinião, econômica, religiosa. [O Brasil] Continua saci pererê, pulando com a perninha esquerda pela parcialidade, mas tudo bem".
Também participaram hoje do evento o ministro de Minas e Energia, Adolfo Sachsida, o chefe da Assessoria Especial de Estudos Econômicos, Rogério Boueri, e o secretário de Política Econômica, Pedro Calhman de Miranda.
Fonte: UOL