O dólar fechou em alta de 1,29% nesta terça-feira (22), negociado a R$ 5,379, com salto no final da sessão após tentativa da coligação do presidente Jair Bolsonaro de questionar o resultado da última eleição, em meio ainda a dúvidas de investidores sobre como ficará o texto final da PEC da Transição.
O Ibovespa opera em queda na tarde desta terça-feira (22), pressionado principalmente pelas ações da Petrobras, após o UBS cortar a recomendação das ações para “venda” em meio a preocupações sobre a estratégia da empresa a partir de 2023.
Às 16:51, o principal índice da bolsa caía 1,59%, aos 108.016 pontos. Na máxima, mais cedo, chegou a 110.223,73 pontos, em parte apoiado no viés relativamente positivo em praças acionárias no exterior. O volume financeiro somava 8,8 bilhões de reais.
Os papéis preferenciais da Petrobras caíam 3,57% e os ordinários, 2,85%, a despeito da alta dos preços do petróleo no exterior, já que segue pressionada por preocupações sobre o rumo da empresa a partir de 2023 com a troca de governo. Além da UBS, JPMorgan e Goldman Sachs já haviam piorado a recomendação para as ações, mas para “neutra”.
Investidores também continuam monitorando as negociações envolvendo a PEC da Transição em busca de sinais mais concretos sobre os gastos públicos a partir de 2023, enquanto ainda esperam novidades sobre a equipe ministerial do próximo governo.
Análise gráfica da equipe da Ágora Investimentos avalia que, para os próximos dias, a tendência para o Ibovespa permanece de baixa, e em caso de tentativa de alta, o índice logo encontraria resistência na região dos 113.400 pontos.
“Do lado inferior, a eventual perda dos 108.200 abriria espaço para uma queda mais forte em direção aos 103.000 pontos.”
O dólar operou em forte alta durante quase todo o pregão, mas acelerou o ritmo do avanço no final da tarde, depois da notícia de que a coligação de Bolsonaro ingressou com uma representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedindo uma verificação extraordinária da eleição de 2022, usando como base um relatório que aponta suposto mau funcionamento das urnas eletrônicas no segundo turno.
Segundo Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital, num cenário já repleto de incertezas, a tentativa de Bolsonaro de questionar as eleições “acrescenta pessimismo em cima de tudo que já temos”, embora tenha dito acreditar que a movimentação do atual presidente não prosperará.
O presidente do TSE, Alexandre de Moraes, determinou nesta terça-feira que a coligação de Bolsonaro apresente em 24 horas uma auditoria referente aos dois turnos da eleição, sob pena de indeferimento da ação apresentada mais cedo.
Na segunda-feira, o humor dos mercados havia sido sustentado por esperanças de que o texto da PEC da Transição pudesse ser desidratado durante as negociações, reduzindo a previsão de gastos extra-teto e definindo um prazo claro para eventuais exceções às regras fiscais do país. No entanto, a falta de definição voltou a deixar os investidores nervosos nesta sessão, quando a volatilidade seguiu elevada.
“Em síntese, acho que a falta de consenso sobre a PEC da Transição fez o mercado recompor posições defensivas que havia desfeito na véspera”, explicou Bergallo à Reuters.
Integrantes da equipe de transição e encarregados da negociação com o Congresso estimam estar próximos de fechar um texto de consenso para a PEC, que já poderia iniciar sua tramitação ainda nesta semana, possivelmente na quarta-feira.
A Levante Investimentos disse em nota a clientes que “será crucial, inclusive para evitar maiores turbulências nos mercados, encontrar um equilíbrio entre o que o Congresso está disposto a validar e os interesses do governo para viabilizar seus gastos no ano que vem”.
A instituição tem como cenário base o enxugamento da PEC da Transição, levando à aprovação de um “waiver” (licença para gastar acima do limite do teto) bastante distante dos quase 200 bilhões de reais inicialmente almejados pelo governo eleito.
Alguns investidores também citaram especulações de que o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad será o escolhido do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva para comandar o Ministério da Fazenda como motivo de cautela nesta terça-feira.
Na semana passada, a Reuters informou, citando fontes próximas de Lula e do ex-prefeito, que Haddad está sendo visto como o favorito do presidente eleito para ocupar o cargo. Os mercados acreditam que Haddad provavelmente teria uma postura fiscal muito inclinada a gastos caso assumisse a Fazenda, de forma que têm reagido mal a qualquer indicação nesse sentido.
Os ganhos do dólar frente ao real vinham na contramão do exterior, onde o índice que compara a moeda norte-americana a uma cesta de seis pares fortes =USD perdia 0,3%.
Apesar da queda internacional do dólar, Bergallo, da FB chamou a atenção para pontos de cautela no cenário global, como a publicação da ata do comitê de decisão de juros do Federal Reserve, agendada para quarta-feira.
Fonte: CNN