O Ibovespa fechou em queda de 0,88% nesta quarta-feira (5), aos 100.977,85 pontos, voltando ao patamar de 100.000 pontos após dias de ganhos, com investidores monitorando planos fiscais do governo Lula, enquanto repercutem dados econômicos dos Estados Unidos que impactam trajetória de aperto monetário do Federal Reserve.
O dólar também encerrou o dia com sinal negativo, com recuo de 0,65%, cotado a R$ 5,050 na venda, retomando trajetória mais recente de baixa ante o real no Brasil, na esteira da percepção positiva em relação ao marco fiscal do governo e da divulgação de dados fracos sobre a atividade econômica nos EUA, que reforçam a avaliação de que os juros norte-americanos podem não continuar subindo.
Neste contexto, profissionais ouvidos pela Reuters afirmaram que o diferencial de juros entre Brasil e EUA segue favorável à entrada de dólares no país, o que pesa sobre as cotações do dólar.
Em um dia sem novidades sobre a nova regra fiscal, que só deve ser apresentada para tramitação no Congresso após a Páscoa, as atenções do mercado se voltam ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que compareceu a dois eventos nesta quarta — uma palestra às 9h no Bradesco BBI Brazil Investment Forum, e outra às 12h, no Esfera Brasil.
As falas de Campos Neto foram bem recebidas nas mesas. Embora os comentários tenham reforçado falas anteriores, a percepção foi de que a relação do BC com o governo está melhor do que há algumas semanas.
Campos Neto falou para uma plateia do mercado financeiro que é preciso reconhecer o esforço do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para reduzir os riscos fiscais do país com a apresentação do novo arcabouço fiscal.
“Eu acho que o que foi anunciado até agora elimina o risco de cauda para aqueles que achavam que a dívida poderia ter uma trajetória mais explosiva”, afirmou Campos Neto.
Mais do que às notícias domésticas, o câmbio reagiu à divulgação de dados fracos da economia norte-americana.
“Os dados lá fora sugerem desaceleração da atividade, da inflação, e aí temos dois impactos que reverberam: o risco latente de haver uma recessão da economia americana, o que penaliza ativos como o dólar, e o que será feito na próxima reunião do Fed”, comentou Fernando Bergallo, diretor da assessoria de câmbio FB Capital.
“Existe muita gente avaliando a possibilidade de haver a manutenção da taxa de juros nos EUA. Isso traz um impacto direto no diferencial de juros entre Brasil e EUA e gera fluxo financeiro”, disse.
Um operador ouvido pela Reuters acrescentou que, nos últimos dias, não há motivos para que o dólar suba ante o real. Segundo ele, os ruídos políticos no Brasil diminuíram e a agenda está relativamente esvaziada.
No exterior, o dólar tinha movimentos mistos em relação a outras moedas de países emergentes no fim da tarde. A divisa dos EUA caía ante a lira turca e o peso colombiano, mas subia ante o peso mexicano e o peso chileno.
No radar dos investidores estava também a espera da apresentação de um decreto nesta tarde para alterar o Marco Legal do Saneamento, pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) apresente, cerimônia que teve início no horário de fechamento do pregão.
Com as alterações da medida aprovada em 2020, segundo o governo, visam beneficiar mais de mil municípios com investimentos federais em obras de saneamento. A estimativa do Ministério das Cidades é de um investimento de aproximadamente R$ 120 bilhões até o final do ano.
No último pregão, o dólar à vista fechou em alta de 0,25%, a R$ 5,083. O Ibovespa subiu 0,36%, aos 101.869,45 pontos.
O Banco Central fez neste pregão leilão de até 16 mil contratos de swap cambial tradicional para fins de rolagem do vencimento de 2 de maio de 2023.
- Tesouro capta US$ 2,25 bi no exterior com juros mais altos
O Tesouro Nacional captou US$ 2,25 bilhões de investidores internacionais com aumento de juros em relação às últimas emissões. O dinheiro veio do lançamento, nesta quarta-feira (5), de US$ 2,25 bilhões em títulos da dívida externa com vencimento em outubro de 2033.
A taxa obtida na emissão dos papéis de dez anos somou 6,15% ao ano. No último lançamento desse tipo de papel, em junho de 2021, o rendimento havia sido 3,875% ao ano. Apesar das taxas mais altas, fontes do Tesouro informaram que as taxas foram menores que as esperadas, de 6,5% ao ano.
No maior nível para papéis de dez anos desde novembro de 2006, os juros obtidos nesta quarta-feira decorreram principalmente da alta recente nas taxas básicas dos Estados Unidos, que sobem desde 2022. Como a taxa final depende do rendimento dos títulos norte-americanos, considerados os investimentos mais seguros do mundo, mais um prêmio de risco, os juros para os papéis brasileiros também subiram.
Taxas baixas de juros indicam pouca desconfiança dos investidores de que o Brasil não conseguirá pagar a dívida. Em momentos de crise econômica e de aumento das taxas externas como o atual, os estrangeiros passaram a cobrar juros mais elevados para comprar os papéis brasileiros.
Apesar da alta dos juros no exterior, o Tesouro informou que os títulos brasileiros tiveram boa receptividade no exterior. A demanda pelos papéis brasileiros superou as expectativas, chegando a US$ 8,5 bilhões.
Segundo o órgão, o mercado internacional estava sendo monitorado e nesta quarta-feira ocorreu uma janela de oportunidade (bom momento) para realizar a emissão.
Por meio do lançamento de títulos da dívida externa, o governo pega dinheiro emprestado dos investidores internacionais com o compromisso de devolver os recursos com juros. Isso significa que o Brasil devolverá o dinheiro daqui a vários anos com a correção dos juros acordada, de 6,15% ao ano para os papéis que vencem daqui a dez anos.
O spread, que é a diferença entre os títulos brasileiros de dez anos e os papéis do Tesouro norte-americano com o mesmo prazo, aumentou. A taxa do papel brasileiro foi 285,4 pontos-base (2,854 pontos percentuais) maior que a dos papéis norte-americanos. Na emissão anterior, em junho de 2021, a diferença havia ficado em 240,2 pontos (2,402 pontos percentuais).
Os recursos captados no exterior serão incorporados às reservas internacionais do país em 13 de abril. De acordo com o Tesouro Nacional, as emissões de títulos no exterior não têm como objetivo principal reforçar as divisas do país, mas fornecer um referencial para empresas brasileiras que pretendem captar recursos no mercado financeiro internacional.
Fonte: CNN - Reuters.