O dólar fechou a sessão desta quarta-feira (19) em forte alta e voltou a superar os R$ 5. Investidores passaram o dia repercutindo os detalhes e desafios do arcabouço fiscal, que na véspera foi enviado pelo Ministério da Fazenda ao Congresso Nacional brasileiro.
Além disso, a expectativa de alta de juros nos Estados Unidos e na Europa também influenciou nas cotações do dólar por aqui.
Ao final do pregão, a moeda norte-americana avançou 2,21%, cotada a R$ 5,0860. Foi a maior variação positiva desde novembro. Na máxima do dia, foi a R$ 5,0865. Veja mais cotações.
Na mesma linha, o Ibovespa também foi influenciado pela maior aversão ao risco e caiu mais de 2% na sessão, de volta aos 103 mil pontos.
Na véspera, o dólar fechou em alta de 0,81%, cotado a R$ 4,9760. Com o resultado de hoje, a moeda passou a acumular:
No Brasil, o grande destaque do dia ficou com a avaliação dos detalhes do novo arcabouço fiscal, entregue nesta terça-feira (18) ao Congresso Nacional.
O projeto de lei do governo elenca uma série de despesas que não serão enquadradas nos limites das novas regras. Também traz mais detalhes sobre as metas de resultado e explica o que acontece caso essas metas não sejam cumpridas.
O mercado tem recalculado as rotas sobre o arcabouço ao perceber que a regra tem alta dependência de aumento de receitas e ao notar dificuldades que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), pode enfrentar para elevar a arrecadação.
Segundo a chefe de economia da Rico, Rachel de Sá, parte do que ilustra essa dificuldade para aumentar as receitas por parte do governo foi a volta atrás sobre a mudança na taxação de importados.
"Em resumo, apesar de não trazer mudanças muito significativas quando comparada a proposta inicial, a peça legislativa de regra fiscal ainda segue com lacunas e preocupações que alimentam incertezas entre investidores", afirmou.
A expectativa, agora, fica pela tramitação do texto no Congresso. A expectativa é que a proposta avance rapidamente.
Para a economista-chefe da B.Side Investimentos, Helena Veronese, outro ponto que ficou no radar dos mercados foi o vídeo que mostrou a presença do chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), o ministro Gonçalves Dias, no Palácio do Planalto no dia dos atos golpistas de 8 de janeiro.
"Isso também trouxe uma insegurança institucional, uma incerteza de como é que isso vai repercutir, principalmente se isso vai ser combustível para a abertura de uma CPMI. Isso tudo acabou trazendo uma certa insegurança no dia de hoje", disse.
Já no mercado internacional, as atenções continuaram voltadas para a probabilidade de altas nos juros de economias desenvolvidas depois de resultados de inflação na Europa e expectativa por dados econômicos nos Estados Unidos.
O Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) divulgou nesta quarta-feira o Livro Bege, relatório com a visão da entidade sobre as condições econômicas correntes. A conclusão foi de que a atividade econômica dos EUA mudou pouco nas últimas semanas, com moderação leve no crescimento do emprego e aparente desaceleração dos aumentos de preços.
As autoridades também sinalizaram que estão próximas do fim do que foi o período mais agressivo de aumentos da taxa de juros nos EUA em 40 anos, com a maioria das autoridades planejando um último incremento de 0,25 ponto percentual antes do que se espera ser um prolongado período em que a taxa básica ficará inalterada.
A leitura do Fed, de abril, fornece também um retrato após a crise nas instituições financeiras após a falência de dois grandes bancos regionais dos EUA. Embora o estresse bancário inicial pareça ter diminuído, os formuladores de política monetária do Fed dizem observar atentamente os sinais de que bancos estão reduzindo os empréstimos e restringindo o crédito.
A retração poderia desacelerar a economia e a inflação ainda mais do que o impacto ainda acumulado de suas elevações de juros, o que aumentaria a chance de reversão dos juros.
Apesar das perspectivas do Livro Bege, o mercado reage a declarações de agentes do Fed feitas na véspera. O presidente do Federal Reserve de Atlanta, Raphael Bostic, disse nesta terça que Banco Central dos EUA provavelmente terá mais um aumento na taxa de juros pela frente, uma vez que continua trabalhando para reduzir a inflação alta.
"Mais um movimento deve ser suficiente para darmos um passo atrás e ver como nossa política está fluindo na economia, para entender até que ponto a inflação está voltando à nossa meta", disse Bostic em entrevista à CNBC.
Já o presidente do Federal Reserve de St. Louis, James Bullard, disse também na terça que o Fed deveria continuar elevando a taxa de juros com base em dados recentes mostrando que a inflação continua persistente, enquanto a economia em geral deve continuar crescendo, mesmo que lentamente.
"Wall Street está muito engajado na ideia de que haverá uma recessão em seis meses ou algo assim, mas não é assim que você leria uma expansão como esta", disse, em entrevista à Reuters.
"O mercado de trabalho parece muito, muito forte. E a sabedoria convencional é que se você tem um mercado de trabalho forte que alimenta um consumo forte... e isso é uma grande parte da economia... não parece ser o momento de prever que haverá uma recessão no segundo semestre de 2023", disse ele.
Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, disse à Reuters que declarações de membros do Fed apontaram um cenário de política monetária mais restritiva durante mais tempo. "As falas foram uníssonas na visualização de uma 'fed fund rating' mais forte por um tempo maior".
Já a inflação na zona do euro diminuiu no mês passado, mas as leituras subjacentes permaneceram altas, disse a Eurostat. A taxa caiu de 8,5% para 6,9% na janela anual, principalmente devido a uma rápida queda nos custos de energia, já que os preços do gás natural continuam caindo após o salto de um ano atrás com a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Mas autoridades do Banco Central Europeu (BCE) agora estão preocupadas com o fato de que os altos custos da energia tenham se infiltrado na economia em geral. As leituras do núcleo persistentemente altas são o motivo pelo qual a maioria das autoridades do BCE já disse que as taxas de juros precisarão continuar subindo, apesar do recorde de 350 pontos-base de alta desde julho passado.
No Reino Unido, a inflação registrou desaceleração menor do que o esperado, fazendo o país ser o único da Europa Ocidental com inflação de dois dígitos em março. A taxa caiu para uma taxa anual de 10,1%, disse o Escritório Nacional de Estatísticas, abaixo dos 10,4% em fevereiro, mas bem acima dos 9,8% previstos por economistas consultados pela Reuters.
A inflação, que atingiu um pico em 41 anos de 11,1% em outubro, continua a corroer o poder de compra dos trabalhadores, cujos salários estão subindo menos. O resultado reforça as apostas de que o Banco da Inglaterra aumentará a taxa de juros novamente em maio.
Fonte: g1