O BC (Banco Central) avaliou nesta 3ª feira (9.mai.2023) que a apresentação da nova regra fiscal e a reoneração dos combustíveis “reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal”. A autoridade monetária, contudo, disse que não há “relação mecânica” sobre o novo marco fiscal e as suas ações.
A autarquia publicou a ata do Copom (Comitê de Política Monetária) nesta 3ª feira (9.mai).
O novo marco fiscal “sólido e crível” poderá levar a “um processo desinflacionário mais benigno”, segundo o colegiado: “A materialização de um cenário com um arcabouço fiscal sólido e crível pode levar a um processo desinflacionário mais benigno através de seu efeito no canal de expectativas, ao reduzir as expectativas de inflação, a incerteza na economia, o prêmio de risco associado aos ativos domésticos e, consequentemente, as projeções do Comitê”.
O BC ponderou que o processo desinflacionário “tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas” e que isso “demanda maior atenção na condução da política monetária”.
O Comitê sinalizou que perspectivas para a retomada do ciclo de aperto monetário são “menos prováveis”, mas disse que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
A autoridade monetária também justificou o patamar elevado da taxa básica de juros ao dizer que a medida é “compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024”.
“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, acrescentou.
O Copom afirmou que o cenário atual necessita de “serenidade e paciência”para assegurar a convergência da inflação para suas metas. O colegiado também disse esperar uma “queda relevante na inflação acumulada em 12 meses ao longo deste 2º trimestre”.
A expectativa é de que haja aceleração da inflação depois do 2º trimestre. A justificativa da autoridade monetária é a de que “haverá a inclusão
dos efeitos das medidas tributárias deste ano”.
No acumulado de 12 meses, a taxa está em 4,65%, dentro do intervalo da meta estabelecida para 2023. A meta de inflação é de 3,25% neste ano e de 3% em 2024. Ambos os objetivos inflacionários têm intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo (de 1,75% a 4,75% em 2023 e de 1,5% a 4,5% em 2024).
Nos últimos 2 anos, a inflação do Brasil ficou acima das metas.
Na 4ª feira (3.mai), a taxa Selic foi mantida pela 6ª reunião seguida em 13,75% ao ano. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse na 5ª feira (4.mai) que ficou “muito preocupado” com a decisão do BC em manter a taxa básica de juros, a Selic, em 13,75% ao ano.
“Eu fiquei bastante preocupado com a decisão de ontem do nosso Copom em manter, pela 3ª vez [neste governo], a maior taxa de juros do mundo numa economia que tem hoje uma das mais baixas taxas de inflação, sobretudo projetada no tempo”, declarou.
Na 2ª feira (8.mai), Haddad fez sua 1ª nomeação para a diretoria de Política Monetária do BC ao indicar para a vaga o secretário-executivo da Fazenda, Gabriel Galípolo. Ele é tido como “nome dos sonhos” do governo para substituir Campos Neto, que tem mandato até 31 de dezembro de 2024, na presidência do Banco Central.
A indicação ainda precisa ser aprovada pelo Senado, mas marca um esforço do governo para dar voz divergente à unanimidade da manutenção dos juros dentro do BC.
O juro base está em 13,75% ao ano desde setembro de 2022 e acima de 2 dígitos desde fevereiro de 2022, ou seja, 15 meses. Segundo o Banco Central, a decisão de manter a Selic em 13,75% ao ano foi unânime.
Assim como em outros países, o Brasil está em processo de aperto monetário. A decisão de manter a Selic em 13,75% foi unânime entre os 8 diretores e o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto.
A autoridade monetária foi alvo de críticas presidente Luiz Inácio Lula da Silva(PT), de aliados governistas e integrantes da equipe econômica em 2023. Em 6 de maio, Lula voltou a criticar o chefe da autoridade monetária.
De Londres, onde acompanhou a coroação do rei Charles 3º, o petista disse que o compromisso do banqueiro é com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o indicou ao cargo.
“Ele não tem nenhum compromisso comigo. Ele tem um compromisso com quem? Com o Brasil? Não tem. Ele tem compromisso com o outro governo, que o indicou. Isso é importante ficar claro”, declarou o presidente.
Lula chegou a chamar Campos Neto de “louco” ao citar, de forma distorcida, uma declaração do presidente do Banco Central feita em março.
A reunião de maio foi a 3ª no governo Lula. O Copom optou por manter a Selic em 13,75% ao ano em todos os encontros. Campos Neto defende que ainda é preciso manter nesse patamar para controlar a inflação do país, que está em 4,65% no acumulado de 12 meses até março.
A meta de inflação é de 3,25% em 2023 e de 3% em 2024. Ambos os objetivos inflacionários têm intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo (de 1,75% a 4,75% em 2023 e de 1,5% a 4,5% em 2024). A inflação do Brasil ficou acima das metas dos últimos 2 anos.
Campos Neto foi ao Senado por 2 ocasiões recentemente para dar explicações sobre o patamar elevado dos juros. O Banco Central foi uma das primeiras autoridades monetárias do mundo que se adiantou ao esforço de desinflação.
Começou a aumentar a taxa Selic em março de 2021 e realizou o maior ciclo brasileiro de alta no século 21. O Copom optou por aumentar os juros em 11,75 pontos percentuais durante 12 reuniões seguidas, de março de 2021 a setembro de 2022.
O Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos) subiu em 0,25 ponto percentual a taxa de juros na 4ª feira (3.mai.2023). Esse foi o 10º reajuste seguido. O intervalo aumentou de 4,75% a 5% para 5% a 5,25% ao ano.
Fonte: Poder360