Economia

Ibovespa alivia perdas, mas fecha com queda de 1,17% em repercussão negativa com BC; dólar estabiliza em R$ 4,77





Resultado é reflexo da surpresa de investidores que esperavam uma sinalização mais forte do Banco Central quanto à possibilidade de um corte de juro em agosto

O Ibovespa caiu de forma generalizada e o dólar ficou estável nesta quinta-feira (22), com investidores repercutindo negativamente a falta de sinalização do Banco Central (BC) em iniciar o corte de juros a partir de agosto.

Na véspera, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 13,75% ao ano, como já era esperado pelo mercado. A frustração, porém, ficou com o tom duro do comunicado.

O cenário global também não contribuiu ao fechar sem direção definida com investidores analisando as falas do presidente do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), Jerome Powell, sobre novas altas dos juros ainda neste ano.

Diante destas pressões, o Ibovespa encerrou a sessão com queda de 1,17%, aos 119.016 pontos.

O mercado recuperou parte das perdas nos momentos finais do pregão. Durante o dia, a desvalorização chegou a se aproximar de 2%, na margem dos 118 mil pontos.

O clima negativo fez investidores buscarem proteção no dólar, que voltou a subir ante o real. A moeda norte-americana fechou o dia com leve queda de 0,08%, negociada a R$ 4,771 na venda.

O Comitê de Política Monetária (Copom) anunciou manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, como esperado, e manteve um tom duro ao avaliar o processo de desinflação no Brasil, defendendo que é preciso ter “paciência” no controle dos preços.

Como nas decisões anteriores neste ano, a manutenção do patamar ocorre em meio a pressões de governos, empresários e entidades representantes dos setores produtivos para que se inicie o ciclo de fim do aperto monetário.

Contudo, mais do que a decisão em si, a expectativa maior era pelo comunicado que o Copom divulga contextualizando sua decisão. Esperava-se que o texto indicasse o início do ciclo de afrouxo monetário, ou, o início de cortes na taxa.

Mas o tom do Comitê não foi nessa linha. O colegiado voltou a citar “paciência e serenidade” com a condução da política monetária em relação à inflação.

Quedas em bloco

As ações mais sensíveis à economia doméstica puxaram as quedas do Ibovespa nesta quinta. A lista foi puxada pelos papéis da Eztec (EZTC3), com perdas de 6,28%, enquanto Alpargatas (ALPA4) retraiu 5,95%.

As principais empresas do Ibovespa também reforçaram a queda do pregão.

Sem a referência das negociações do minério de ferro no porto de Dalian devido ao feriado na China, a Vale (VALE3) perdeu 0,54%.

Já os papéis da Petrobras caíram em reflexo à desvalorização do petróleo no mercado global. O barril do tipo Brent fechou a sessão com queda de 3,86%, a US$ 74,14.

As ações preferenciais da estatal (PETR4) caíram 1,26%, enquanto as ordinárias (PETR3) tiveram perda de 1,65%.

Cenário global

O cenário global também foi marcado pela cautela diante das novas declarações do presidente do Fed sobre os rumos dos juros nos Estados Unidos.

Em Wall Street, Dow Jones perdeu 0,03%, enquanto S&P 500 desvalorizou 0,36%. Na contramão, Nasdaq subiu 0,93.

No Velho Continente, o índice pan-europeu Stoxx 600 caiu 0,54%.

Durante o segundo dia de audiência no Congresso, Powell disse que a queda das taxas devem esperar até que a meta de inflação de 2% ao ano seja alcançada.

“Estamos pelo menos perto de onde achamos que nosso destino está… e só faz sentido nos movermos… em um ritmo cuidadoso”, disse

Na véspera, ele já havia afirmado que nova alta de 0,50 ponto percentual nos juros é “um bom palpite”.

Na Europa, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) surpreendeu o mercado ao acrescentar meio ponto nos juros, elevando a taxa a 5%.

 

 

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- Copom contrata problemas ao não indicar queda dos juros, avalia Haddad

A decisão do Banco Central (BC) de não indicar o início da queda dos juros traz problemas para o futuro, como aumento de inflação e de carga tributária, disse nesta quinta-feira (22) o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Além de criticar a manutenção da Taxa Selic (juros básicos da economia) em 13,75% ao ano pela sétima vez seguida, o ministro considerou “muito ruim” o tom do comunicado emitido pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

“Nós estamos contratando um problema com essa taxa de juros. É isso que essa decisão significa. Está contratando inflação futura e aumento da carga tributária futura. É isso que está sendo contratado”, disse Haddad em Paris, onde acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em viagem oficial.

No comunicado, o Copom indicou que ainda existem riscos sobre a inflação, como eventuais pressões globais sobre os preços e incertezas “residuais” sobre a votação do arcabouço fiscal. Diferentemente das últimas reuniões, foi retirada a frase que afirmava que o Banco Central poderia voltar a elevar os juros caso a inflação subisse, mas a autoridade monetária não informou se e nem quando pretende cortar a Selic.

Para Haddad, o Copom poderia informar ou ao menos indicar quando começará a reduzir os juros. Segundo o ministro, existe um descompasso entre a avaliação do Banco Central e os dados econômicos que apontam forte desaceleração da inflação, o que preocupa o Ministério da Fazenda.

“O comunicado, como de hábito, é o quarto comunicado muito ruim. Todos foram ruins. E às vezes ele corrige na ata [divulgada seis dias após a reunião do Copom], mas não alivia a situação. Há um descompasso entre o que está acontecendo com o dólar, com a curva de juros, com a atividade econômica. É um claro sinal de que podíamos sinalizar um corte na Taxa Selic”, continuou a criticar Haddad.

Boletim Focus

O ministro também pediu que o Banco Central leve menos em consideração o boletim Focus, pesquisa semanal com instituições financeiras feita pelo órgão, na hora de tomar decisões. “A pesquisa não pode substituir a autoridade monetária. Tem uma pesquisa que está errando há seis meses, pode até continuar levando em conta, mas tem que sopesar os argumentos” — disse o ministro.

Na última edição da pesquisa, os analistas de mercado acreditavam que a Selic começaria a cair em agosto.

Contas públicas

No início da semana, Haddad tinha afirmado que o Banco Central deveria ter cortado os juros a partir de março. A persistência do BC em não reduzir a Selic, destacou o ministro, também impactará as contas públicas porque União, estados e municípios perdem arrecadação com a atividade econômica enfraquecida.

“Os estados estão perdendo arrecadação. Os municípios estão perdendo arrecadação. A União não está performando”, declarou Haddad. O ministro, no entanto, ressaltou que algumas defasagens no caixa do governo estão sendo resolvidas. Citou a previsão de votar o projeto de lei que reformula o sistema de votação do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), tribunal administrativo da Receita Federal, que poderá reforçar a arrecadação em R$ 30 bilhões por ano com o retorno do voto de desempate a favor do governo.

Dados positivos

Na última segunda-feira (19), Haddad e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, almoçaram fora da agenda oficial num restaurante de Brasília. O ministro disse estar fazendo “um esforço genuíno” para entender o que se passa no Banco Central de um ponto de vista técnico.

“Estou falando como brasileiro, não estou falando aqui de outra maneira. Eu não consigo entender. Com tudo o que aconteceu esse mês [queda da inflação]? Eu não vou levantar hipótese sobre a subjetividade das pessoas. O que eu digo é o seguinte: na técnica, eu não consigo entender esse comunicado [do Copom]”, criticou Haddad. O ministro reiterou que voltará a se encontrar com Campos Neto na próxima semana, na reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN) que definirá a meta de inflação para 2026 e, em tese, pode revisar as metas para 2023, 2024 e 2025.

Além da forte desaceleração da inflação, o ministro citou, como dados positivos para a economia em junho, a melhora da perspectiva da agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) e os avanços nas negociações para a votação do novo arcabouço fiscal e da reforma tributária.

 

Fonte: CNN - Agência Brasil