O Ibovespa e o dólar fecharam em alta nesta segunda-feira (3), com investidores dividindo as atenções entre as expectativas de novas quedas nos juros e da inflação e na pauta de votações no Congresso.
Na arena global, o temor de aumento generalizado dos juros nos EUA e na Europa voltou a pressionar o humor dos mercados, em um dia sem parte do referencial de Wall Street com o fechamento adiantado dos mercados norte-americanos à véspera do feriado de 4 de Julho.
Diante destas pressões, o principal indicador da bolsa brasileira fechou a sessão com alta consistente de 1,34%, aos 119.672 pontos. O pregão de sexta-feira (30) encerrou com perda de 0,25%, aos 118.087 pontos.
Apesar do resultado, o Ibovespa teve a maior alta mensal desde novembro de 2020 e o melhor primeiro semestre desde 2019.
Após operar sem direção definida durante, o dólar engatou para cima e fechou com alta de 0,37%, negociado a US$ 4,806.
Além dos mercados fechados nos EUA nesta terça, o movimento reflete as expectativas pelos próximos passos do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA), na política monetária.
Na quarta-feira (5), a autoridade divulga a ata do último encontro do colegiado, no dia 14 de junho, que manteve os juros estáveis entre 5% e 5,25%.
Queda dos juros e blue chips impulsionam mercado
O pregão é puxado pela alta de empresas expostas à economia doméstica, reflexo da queda generalizada dos juros por toda a curva após o mercado reforçar as expectativas de baixa da Selic e da inflação neste ano.
Opiniões capturadas pelo Boletim Focus mostraram que as estimativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é 4,98% ao fim de 2023, ante 5,06% há uma semana.
Além disso, o mercado revisou para baixo suas projeções para a taxa básica de juros, a Selic. A previsão passou de 12,25% para 12% ao ano em 2023.
Empresas de maior peso, chamadas de “blue chips”, também ajudam a sustentar a alta do Ibovespa.
A Vale (VALE3), companhia com maior relevância no pregão, subiu 3,13% após receber autorização para explorar novas áreas em Minas Gerais.
No segmento de metalurgia e siderurgia, Usiminas (USIM5) ganhou 2,55%, enquanto Metalúrgica Gerdau (GOUA4) avançou 3,72%.
A Petrobras também voltou ao campo positivo após afundar no último pregão da semana passada com o anúncio de corte de preços às refinarias para a gasolina e gás de cozinha.
Os papéis preferenciais (PETR4) subiram 1,86%, enquanto os ordinários (PETR3) ganharam 1,72%.
A primeira semana do novo semestre também será de forte movimentação na área política.
Para os próximos dias, estão previstas as votações pelo Congresso do novo marco fiscal e reforma tributária, além das leis que alteram o Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf).
A nova âncora fiscal já foi aprovada pelas duas Casas, porém, com as alterações propostas pelos senadores, o texto deve passar por nova votação na Câmara.
Já a reforma tributária deve entrar na pauta dos deputados em meio às negociações com entidades de classe, prefeitos e governadores.
- Balança comercial tem superávit de US$ 10,592 bilhões em junho
A balança comercial – diferença entre exportações e importações – fechou junho com superávit de US$ 10,592 bilhões, divulgou nesta segunda-feira (3) o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O resultado é o melhor para meses de junho e representa alta de 19,1% em relação ao mesmo mês do ano passado, pelo critério da média diária.
Com o resultado de junho, a balança comercial encerrou o primeiro semestre com superávit acumulado de US$ 45,514 bilhões, resultado recorde para o período desde o início da série histórica, em 1989.
Em relação ao resultado mensal, o recorde ocorreu apesar de tanto as exportações como as importações terem caído em junho. No mês passado, o Brasil vendeu US$ 30,094 bilhões para o exterior, queda de 8,1% em relação ao mesmo mês de 2022 pelo critério da média diária. As compras do exterior somaram US$ 19,502 bilhões, recuo de 18,2% pelo mesmo critério.
Do lado das exportações, a queda das commodities (bens primários com cotação internacional) foi a principal responsável pela retração. Após baterem recorde no primeiro semestre do ano passado, após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, as commodities recuaram nos últimos meses, provocando a retração nas vendas externas. A safra recorde de soja contribuiu para segurar a queda nas exportações.
No mês passado, o volume de mercadorias exportadas subiu apenas 6,7%, enquanto os preços caíram 15,2% em média na comparação com o mesmo mês do ano passado. Nas importações, a quantidade comprada caiu 3,3%, mas os preços médios recuaram 17,7%.
Ao comparar o setor agropecuário, a safra recorde de grãos pesou mais nas exportações. O volume de mercadorias embarcadas subiu 30,4% em junho na comparação com o mesmo mês de 2022, enquanto o preço médio caiu 18,2%. Na indústria de transformação, a quantidade caiu 5,7%, com o preço médio recuando 7,1%. Na indústria extrativa, que engloba a exportação de minérios e de petróleo, a quantidade exportada subiu 12%, enquanto os preços médios caíram 28,3%.
Os produtos com maior destaque nas exportações agropecuárias foram milho não moído (-13,5%), café não torrado (-26,2%) e algodão bruto (-28,3%). Exceto no caso do café, afetado pela safra menor, essa diminuição se deve principalmente aos preços. O destaque positivo foi a soja, cujas exportações subiram 10,1% de junho do ano passado a junho deste ano por causa da safra recorde, mesmo o preço médio tendo caído 20,7%.
Na indústria extrativa, as maiores quedas foram registradas em minério de ferro e concentrados (22,8%) e óleos brutos de petróleo ou de minerais betuminosos, crus (25%). Nos dois casos, a quantidade exportada subiu, mas os preços médios caíram com a acomodação das cotações internacionais após o primeiro aniversário da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Na indústria de transformação, as maiores quedas ocorreram nos combustíveis (47,9%), gorduras e óleos vegetais industrializados (49%) e ferro industrializado (36%).
Em relação as importações, os maiores recuos foram registrados no trigo e centeio, não moídos (58,8%), milho não moído (92,5%) e látex, borracha natural e gomas naturais (63,9%), na agropecuária; carvão não aglomerado (56,8%), petróleo bruto (46,8%) e gás natural (29,6%), na indústria extrativa; e combustíveis (21,7%), compostos organo-inorgânicos (26%) e adubos ou fertilizantes químicos (66,1%) na indústria de transformação.
Em relação aos fertilizantes, cujas compras do exterior ainda são impactadas pela guerra entre Rússia e Ucrânia, a queda deve-se principalmente à diminuição de 55,2% nos preços. A quantidade importada caiu 24,3% em maio na comparação com junho do ano passado.
Apesar da desvalorização das commodities, o governo revisou levemente para cima a projeção de superávit comercial. Para 2023, o governo prevê saldo positivo de US$ 84,7 bilhões, contra projeção anterior de US$ 84,1 bilhões.
Segundo o MDIC, as exportações diminuirão 1,4% em 2023 e encerrarão o ano em US$ 330 bilhões. As estimativas são atualizadas a cada três meses. As importações recuarão 10% e fecharão o ano em US$ 245,2 bilhões.
As previsões estão muito mais otimistas que as do mercado financeiro. O boletim Focus, pesquisa com analistas de mercado divulgada toda semana pelo Banco Central, projeta superávit de US$ 63,76 bilhões neste ano.
Fonte: CNN - Reuters