O Ibovespa esboçou recuperação nesta sexta-feira (28) e fechou próximo da estabilidade, a despeito da forte queda da Vale (VALE3) e outras ações ligadas ao minério de ferro com notícias negativas na China.
O quadro positivo foi sustentado pelo cenário internacional, com alta generalizada em Wall Street com investidores prevendo um “pouso suave” da economia dos Estados Unidos após novo aumento dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o BC norte-americano).
O principal índice da bolsa brasileira fechou o dia com leve alta de 0,16%, aos 120.187 pontos.
O resultado faz o principal índice da bolsa brasileira encerrar a semana perto do zero a zero, com perda de 0,02%.
O saldo semanal foi prejudicado pela forte queda de 2,1% na véspera, encerrando a sequência de altas que levou o pregão a superar as máximas em quase dois anos.
Já o dólar voltou a registrar queda firme com o bom humor nos mercados globais. A divisa fechou o dia com perda de 0,58%, a R$ 4,731 na venda.
A moeda norte-americana encerrou a semana com recuo de 1% em meio à sequência de queda que trouxe a cotação para o valor mais baixo desde abril do ano passado.
O dia foi de forte perda para a Vale com a soma da queda do minério de ferro com a publicação de resultados negativos no segundo trimestre.
A ação com maior peso no mercado doméstico perdeu 3,96% diante da preocupação de que a China desacelere o uso de aço.
O cenário também foi impactado pela queda de 78% do lucro líquido entre março e junho, segundo balanço divulgado na véspera.
No outro lado, ações da Petrobras e bancos ajudaram a manter o Ibovespa no campo positivo.
Os papéis preferenciais da estatal (PETR4) subiram 1,26%, enquanto os ordinários (PETR3) ganharam 1,69%.
No setor financeiro, Itaú (ITUB4) valorizou 1,49%, já as ações do Bradesco (BBDC4) e Santander (SANB11) subiram 1,37% cada.
O dia também foi de ganhos na maior parte das praças do globo após reajustes nos juros nos Estados Unidos e na Zona do Euro.
Em Wall Street, Dow Jones subiu 0,49%, S&P 500 ganhou 0,97% e Nasdaq valorizou 1,86%.
No outro lado do Atlântico, o índice pan-europeu Stoxx 600 perdeu 0,20%.
Nos EUA, o Fed aplicou alta de 0,25 ponto percentual (p.p) na taxa, elevando a banda para algo entre 5,25% e 5,50% – o maior nível em 22 anos.
O presidente do Fed, Jerome Powell, ainda afirmou que não está descartada novas altas ao longo dos próximos meses.
Apesar do recado, dados recentes da maior economia do mundo apontam para um “pouso suave” em meio ao aperto monetário.
O Banco Central Europeu (BCE) também subiu a taxa em 0,25 p.p, a 4,5%.
- Caminho está pavimentado para queda da Selic, diz Haddad
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira (28), em São Paulo, que “os ventos estão favoráveis” no país, mas que ainda é preciso que o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central baixe os juros básicos da economia, a taxa Selic, ao comemorar a queda do desemprego e a elevação da nota do Brasil pela agência de classificação de risco Fitch.
“Apesar do índice de desemprego estar abaixo da média dos últimos anos para o mês, a economia está sofrendo um processo de desaceleração por conta do juro real na casa de 10%, o que é quase o dobro do país que mais cobra juros depois do Brasil. Os ventos estão favoráveis. O mundo está olhando para o Brasil com outros olhos e outra percepção. E está mais do que na hora de nós alinharmos a política fiscal e monetária para o Brasil voltar a sonhar com dias melhores”, disse em entrevista coletiva.
Segundo o ministro, a inflação “está muito controlada”, o que daria, na comparação internacional, um espaço “extraordinário para o Brasil crescer mais e gerar mais oportunidades”.
Para Haddad, o caminho para o corte da Selic já está pavimentado. “Com certeza o caminho está pavimentado. No começo do ano, a pergunta era se o juro iria cair. Depois, passou a ser quando o juro ia cair. E, agora, quanto", disse o ministro, acrescentando que existe "muito espaço para um corte razoável" na Selic na próxima reunião do Copom, terça-feira (1) e quarta-feira (2).
“Estamos muito distantes do que o BC [Banco Central] chama de juro neutro, que é inferior a 5%. Estamos com o dobro do juro neutro. Então há um espaço generoso para aproveitar”.
De acordo com o ministro da Fazenda, a alta taxa de juros brasileira gera preocupação no governo. “Nossa preocupação é com a desaceleração. A receita não está correspondendo. Temos que retomar a economia”, defendeu.
Questionado se sonha com um número mais ideal para a Selic, Haddad sorriu, fazendo sinal de positivo com a cabeça. “Eu imagino um número. Vamos fazer uma conta simples. Se nós quisermos atingir um patamar de juro neutro, temos que cortar 5% a taxa de juro real, o que dá dez [reuniões do] Copom a meio por cento. Dez Copons é quase até o final do mandato do atual presidente do Banco Central [Roberto Campos Neto]. Ele tem 12 Copons. Então dá para ele ficar com muita vantagem. E ele ainda ficará acima do juro neutro”.
A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), divulgada nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrou que a taxa de desocupação foi de 8% no trimestre encerrado em junho, o menor resultado para o período desde 2014.
Também nesta sexta-feira, a agência de classificação de risco DBRS Morningstar elevou a nota de crédito do Brasil de BB (low) para BB, com tendência estável. Foi a segunda agência a melhorar a avaliação de risco do Brasil neste ano. Antes, a Fitch já havia elevado a nota do Brasil de BB- para BB, com perspectiva estável.
Em junho, a agência S&P também havia reavaliado a perspectiva da nota de crédito do Brasil de estável para positiva. “Essa agência canadense, a DBRS, hoje mudou a nota do Brasil também. Penso que, às vésperas de uma semana importante, que é a primeira reunião do segundo semestre do Copom, é importante salientar que o mundo inteiro já compreendeu que está acontecendo alguma coisa boa no Brasil. E que o rumo dado para a agenda econômica vai em encontro do que o Brasil precisa para restabelecer a confiança, atrair investimentos e, sobretudo, gerar bem-estar na população brasileira”, disse o ministro.
Haddad comentou sobre a indicação do economista Marcio Pochmann para a presidência do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para ele, a polêmica sobre a indicação está muito elevada. “Penso que está um pouco exagerada a reação. Ele é um profissional, um professor universitário em uma universidade pública considerada uma das melhores do país. Podemos discordar da pessoa. Não tem problema nenhum. Em uma democracia, convivemos com pessoas que pensam diferente. É um governo amplo, com pessoas de várias colorações e que estão se entendendo. Tenho certeza de que vai dar muito certo. O Marcio é uma pessoa muito educada e que vai interagir muito bem com a ministra Simone Tebet [Planejamento]”.
“É estranho esse tipo de comportamento, muito exagerado. À luz das pessoas que ocuparam cargos no governo passado, não vi nada acontecer desse tipo. No governo [Jair] Bolsonaro era de arrepiar os cabelos. E ninguém falava nada”, disse.
Fonte: CNN - Agência Brasil