O Japão chegou à Copa do Mundo Feminina da Austrália e da Nova Zelândia com um dos times mais jovens do torneio e com o objetivo de ser campeão, mas a meta realista era chegar às quartas de final, conforme explicamos na nossa prévia. A eliminação de hoje, diante da Suécia, foi extremamente frustrante para as Nadeshiko por causa do futebol bonito apresentado até então, bem acima das expectativas pré-Copa, e pela forma dramática com o jogo de desenrolou.
As japonesas tinham chegado como segunda força em um grupo que tinha a Espanha como favorita, mas se classificaram em primeiro lugar ganhando todos os jogos e até goleando as espanholas por incríveis 4x0. Nas oitavas de final, mais uma grande atuação e vitória incontestável sobre uma Noruega forte e tradicional, mas que estava longe de seus melhores dias. Assim, o Japão chegou às quartas de final com a melhor campanha e jogando discutivelmente o futebol mais bonito da Copa, o que elevou as expectativas à alturas e fez muita gente até colocar as Nadeshiko entre as favoritas ao título.
O problema é que do outro lado estava a Suécia, que tinha a segunda melhor campanha da Copa e derrotou nas oitavas de final a grande favorita (que não vinha jogando tão bem assim, é bom frisar), a seleção dos Estados Unidos, nos pênaltis. O Japão é apenas o 11º no ranking da Fifa e antes da Copa tinha só uma vitória em seis jogos contra seleções do top-10 na era Futoshi Ikeda. Quem acompanha as Nadeshiko sabia o quanto seria duro enfrentar a terceira colocada no ranking mundial, a mesma seleção que dois anos atrás eliminou o Japão com sobras nas quartas de final das Olimpíadas de Tóquio. Será que o desnível entre as seleções teria diminuído tanto em apenas dois anos? Até as casas de aposta colocavam o Japão como favorito nesse duelo, mas quando a bola rolou vimos que não era bem assim.
Ikeda repetiu dez titulares do jogo contra a Noruega, mas com uma mudança que dá pano para muita discussão. Jun Endo era uma das destaques da equipe, mas acabou indo para o banco, provavelmente por causa da sua deficiência na marcação. Sabendo da força da Suécia pelo lado direito, Ikeda preferiu escalar na sua ala esquerda Hina Sugita. O problema é que nem Endo e nem Sugita são laterais de origem e não têm a marcação como característica. Endo é uma ponta, praticamente uma atacante, que gosta de driblar e ir para cima das marcadoras. Sugita era aquela meio-campista que organiza o jogo, que não tem tanta velocidade, mas que lê bem as jogadas e tem qualidade no passe. Por ter jogado muito tempo como volante, está mais acostumada a marcar. Mas não foi suficiente, porque as suecas atacaram por ali o tempo todo e sempre levando perigo, não só com superioridade física, mas também com lançamentos nas costas da defesa. Não ter nenhuma lateral esquerda de origem no elenco acabou se tornando uma fraqueza que a Suécia se aproveitou (e não é como se tivesse outra jogadora que deveria ter sido convocada ou escalada ali).
O maior receio do Japão era com as bolas paradas da Suécia, de onde as escandinavas costumam marcar grande parte dos seus gols. Não cometer faltas no campo defensivo e não ceder escanteios era uma preocupação real. Mesmo com essa bola cantada, no entanto, foi assim que as suecas abriram o placar, em uma cobrança de falta que o Japão não conseguiu afastar e, depois de um bate-rebate e três tentativas bloqueadas por defensoras japonesas, a zagueira Amanda Ilestedt escapou da marcação de Kumagai e fez 1x0. O controle era total das europeias no primeiro tempo e as asiáticas tiveram sorte de ir para o intervalo perdendo só por um gol.
As Nadeshiko voltaram para o segundo tempo com Endo no lugar de Sugita, mas quase tomaram o segundo logo no segundo minuto em um contra-ataque nas costas de Endo (como esperado, era o risco a se assumir) que Yamashita salvou. Mas no escanteio que veio daí a bola acabou batendo no braço de Nagano e a árbitra marcou pênalti depois de consultar o VAR. A meio-campista Filippa Angeldahl deslocou Yamashita e fez 2x0. Naquele momento, parecia que não tinha mais jeito.
Na Copa de 2019, o Japão foi eliminado depois de um pênalti em que a bola acidentalmente bateu no braço de Kumagai. Nas Olimpíadas de Tóquio, o gol da vitória da Suécia também veio de um pênalti causado por bola no braço, dessa vez na volante Narumi Miura. E agora o mesmo aconteceu na terceira eliminação consecutiva das Nadeshiko em um torneio mundial.
Mas as japonesas não caíram sem lutar. A partir do minuto 70 elas começaram a pressionar e chegar com perigo a todo momento, mas a bola teimava em não entrar. Riko Ueki, depois de substituir Tanaka, sofreu um pênalti que ela mesma bateu, mas parou no travessão. Depois foi a vez de Fujino acertar o travessão em cobrança de falta - a bola ainda bateu nas costas da goleira, na trave e rolou por cima da linha, sem entrar. A três minutos do fim do tempo regulamentar, a substituta Honoka Hayashi pegou rebote na área e diminuiu o placar. Foram dez minutos de acréscimos em que até Maika Hamano, a jovem estrela que ainda não tinha jogado nesta Copa por causa de uma lesão no ombro, entrou em campo, no lugar da zagueira Takahashi, quando Ikeda foi para o tudo ou nada. Foi tensão até o último instante, mas as suecas conseguiram segurar a vantagem e se classificaram para enfrentar na semifinal, quem diria, a Espanha.
Poderia muito bem ter sido a final da Copa. Ficou claro hoje que o Japão ainda não está no mesmo nível da Suécia, mas já conseguiu diminuir bastante a diferença para as melhores seleções do mundo. Uma derrota imensamente frustrante para as japonesas, com várias delas chorando após o apito final. Frustrante justamente porque elas sabiam que dava para ir mais longe. Apesar de terem alcançado a meta que antes da Copa parecia a mais realista, o futebol jogado foi de um nível acima do que mostra o resultado final no torneio. Foi futebol de seleção semifinalista, de seleção finalista, de seleção que poderia até ter sido campeã. E isso fica como o saldo positivo da Nadeshiko Japan nesta Copa. Depois de anos de estagnação e regressão, a seleção feminina do Japão finalmente entrou em uma curva ascendente e voltou a brigar entre as melhores do mundo. É um time que ainda não atingiu seu potencial e tem muitas jovens como destaques. Quem sabe na próxima Copa, aí sim, o Japão possa chegar como um candidato real ao título e ir mais longe.
Fonte: ge