O Ibovespa fechou no vermelho e o dólar subiu nesta quarta-feira (30), com o mercado local se descolando do otimismo global em uma sessão marcada por divulgações de dados nos Estados Unidos e no Brasil, além das movimentações em Brasília para a apresentação do Orçamento de 2024 pelo governo federal.
O principal índice da bolsa brasileira encerrou a sessão com perda de 0,73%, aos 117.535 pontos.
Na direção oposta, o dólar valorizou 0,29% ante o real, negociado a R$ 4,869 na venda.
O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) norte-americano foi revisado para 2,1% no segundo trimestre, ante expansão de 2,4% informada no mês passado e expectativas de manutenção desse desempenho.
A percepção de investidores é de que os dados poderiam suavizar a trajetória de política monetária do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) mas o mercado deve seguir cauteloso até sexta-feira (1º), quando será divulgado um importante relatório de emprego do governo.
Também nesta manhã, dados do mercado de trabalho mostraram que foram abertas 177.000 vagas de trabalho no setor privado no mês passado, enquanto economistas consultados pela Reuters previam 195.000 postos. Os dados de julho foram revisados para 371.000 empregos criados, de 324.000 informados anteriormente.
O alívio, mesmo que momentâneo, com a trajetória dos juros na maior economia do mundo deu força para altas em Wall Street. O Dow Jones subiu 0,12%, enquanto S&P 500 ganhou 0,40% e a Nasdaq valorizou 0,51%.
Já no cenário doméstico, dados IGP-M, também conhecido como inflação do aluguel, mostraram queda de 0,14% em agosto, pouco abaixo das expectativas dos analistas.
Mais tarde, números do Caged revelaram que o mês de julho encerrou com saldo positivo de 142 mil vagas no mercado de trabalho formal, com destaque para o setor de serviços.
Na parte da tarde, o Tesouro informou que o déficit primário foi de R$ 35,9 bilhões em julho.
O resultado foi o segundo pior para o mês na série histórica corrigida pela inflação do Tesouro, iniciada em 1997, melhor apenas que o rombo de R$ 109,6 bilhões registrado em julho de 2020, quando o gasto do governo estava fortemente impactado pelo enfrentamento da pandemia de Covid-19.
Ainda na pauta local, o dia foi de atenção em Brasília na véspera para o fim do prazo de apresentação do Orçamento de 2024 pelo governo federal. Mais cedo, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, descartou alterações na meta de zerar o déficit fiscal.
Ainda na capital do país, o Senado deve votar hoje o projeto que devolve o voto de qualidade no Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf). A medida é vista como fundamental para alcançar o equilíbrio das contas.
Já na Câmara há a expectativa de votação do mérito do projeto de desoneração da folha de pagamento dos 17 setores da economia que mais empregam no país.
- Governo Central registra segundo maior déficit para meses de julho
Sem dividendos da Petrobras e com mudanças no cronograma do décimo terceiro de aposentados e pensionistas e do abono salarial, o Governo Central – Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central – registrou o maior déficit primário para meses de julho em três anos. No mês passado, o resultado ficou negativo em R$ 35,933 bilhões, contra superávit de R$ 18,949 bilhões obtido em julho de 2022.
Tanto em valores nominais como reais (corrigidos pela inflação), o resultado de julho foi o segundo pior da história e o pior para o mês desde julho de 2020. Naquele mês, houve déficit primário de R$ 87,887 bilhões por causa dos gastos extras com a pandemia de covid-19.
O resultado veio muito pior do que o esperado pelas instituições financeiras. Segundo a pesquisa Prisma Fiscal, divulgada todos os meses pelo Ministério da Fazenda, os analistas de mercado esperavam resultado negativo de R$ 6 bilhões em julho.
Com o resultado de julho, o Governo Central acumula déficit primário de R$ 78,246 bilhões em 2023. Em valores nominais, esse é o segundo maior déficit acumulado, só perdendo para o os sete primeiros meses de 2020 (resultado negativo de R$ 505,232 bilhões). Em valores reais (corrigido pela inflação), é o quinto maior déficit da série.
O resultado primário representa a diferença entre as receitas e os gastos, desconsiderando o pagamento dos juros da dívida pública. A Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) deste ano estabelece meta de déficit primário de R$ 231,5 bilhões para o Governo Central (Tesouro Nacional, Previdência Social e Banco Central).
Em janeiro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou um pacote que pretende aumentar a arrecadação e revisar gastos para melhorar as contas públicas e diminuir o déficit para cerca de R$ 100 bilhões em 2023 . No fim de julho, a Secretaria de Política Econômica informou que a previsão oficial de déficit primário está em R$ 145,4 bilhões para este ano.
Na comparação com julho do ano passado, as receitas caíram, enquanto as despesas cresceram. No último mês, as receitas líquidas caíram 1,5% em valores nominais. Descontada a inflação pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a queda chega a 5,3%. No mesmo período, as despesas totais subiram 36,5% em valores nominais e 31,3% após descontar a inflação.
Se considerar apenas as receitas administradas (relativas ao pagamento de tributos), houve queda de 3,7% em julho na comparação com o mesmo mês do ano passado, já descontada a inflação. As maiores reduções ocorreram no Imposto de Renda, com recuo de 8,4% descontada a inflação, e na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, com retração de 16,4%. As quedas decorrem tanto da diminuição do lucro das empresas como de pagamentos atípicos (acerto de contas) ocorridos em 2022 e que não se repetiram este ano.
Em relação às receitas não-administradas pela Receita Federal, os maiores recuos foram registrados no pagamento de dividendos e de juros sobre capital próprio das estatais, com queda de R$ 5,4 bilhões (-74,8%) em valores corrigidos pela inflação. Segundo o Tesouro Nacional, isso ocorreu porque a Petrobras distribuiu dividendos (parcela dos lucros destinada aos acionistas) em julho do ano passado. Neste ano, a distribuição ocorreu em agosto.
Outro recuo importante ocorreu com as receitas de royalties, que caíram R$ 5,74 bilhões (-27,7%) descontada a inflação no mês passado na comparação com julho de 2022. Atualmente, a cotação do barril internacional está em torno de US$ 84 após ter chegado a US$ 120 no meio do ano passado, por causa da guerra entre Rússia e Ucrânia.
Turbinados pelo novo Bolsa Família, os gastos com programas sociais subiram R$ 6,5 bilhões acima da inflação em julho na comparação com o mesmo mês do ano passado. Por causa do pagamento do décimo terceiro para aposentados e pensionistas, os gastos com a Previdência Social subiram R$ 26,6 bilhões a mais que o IPCA. No ano passado, o décimo terceiro foi pago de abril a junho. Neste ano, o pagamento ocorreu de maio a julho.
Outro fator que reforçou os gastos foi a alta de R$ 5,1 bilhões acima da inflação no pagamento de abono salarial e seguro desemprego. Isso ocorreu porque o calendário deste ano foi diluído de fevereiro a julho, em vez de se concentrar em fevereiro e março, como em 2022.
Os gastos com o funcionalismo federal subiram 1,4% acima da inflação em julho comparada com o mesmo mês do ano passado. A alta reflete o aumento de 9% concedido aos servidores do Poder Executivo Federal, aprovado no fim de abril pelo Congresso.
Em relação aos investimentos (obras públicas e compra de equipamentos), o governo federal investiu R$ 29,354 bilhões nos sete primeiros meses do ano. O valor representa alta de 17,5% acima do IPCA em relação ao mesmo período de 2022. Nos últimos meses, essa despesa tem alternado momentos de crescimento e de queda descontada a inflação. O Tesouro atribui a volatilidade ao ritmo variável no fluxo de obras públicas.
Fonte: CNN - Agência Brasil