O Ibovespa voltou a fechar no campo negativo e o dólar se aproximou de R$ 5 nesta terça-feira (26), com o mercado doméstico à reboque do pessimismo internacional.
Na cena doméstica, o dia foi de observar novos dados da inflação e a sinalização do Banco Central (BC) em manter o ciclo de queda dos juros. No fim da sessão, o humor ficou ainda mais pressionado com as dúvidas sobre a tramitação da reforma tributária no Congresso.
O principal índice do mercado financeiro encerrou o dia com perda de 1,49%, aos 114.193 pontos, na quarta sessão seguida de desvalorização.
O mercado foi dragado pela queda de 1,56% da Vale (VALE3), enquanto Petrobras (PETR4) perdeu 2,31%.
A alta dos juros ao longo da curva também pressionou as ações das varejistas. As ações da Petz (PETZ3) puxaram a queda, com perda de 5,6%. Já no setor financeiro, o pior desempenho foi do BTG Pactual (BPAC11), com recuo de 2,23%.
O clima de cautela levou investidores a se protegerem no dólar, que registrou alta ante as principais moedas globais.
Contra o real, a divisa norte-americana encerrou a sessão com valorização de 0,46%, negociada a R$ 4,989 na venda.
Segundo Elcio Cardozo, especialista em mercado de capitais e sócio da Matriz Capital, o dólar não fecha acima de R$ 5 desde maio.
“Com a valorização dos treasuries, os investidores tendem a buscar esses prêmios maiores em ativos de baixo risco, como é o caso dos títulos de dívida emitidos pelos Estados Unidos e, com isso, o dólar tende a se valorizar em todo o mundo”, explica.
Mais uma vez, o pessimismo global foi puxado por preocupações com os Estados Unidos e a China, as duas maiores potências econômicas do globo.
No primeiro caso, o temor vem da expectativa por novo aumento dos juros pelo Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) ainda neste ano, o que levou o Treasury de dez anos — o título de referência dos EUA que define o tom dos custos de empréstimos em todo o mundo — para o nível mais alto desde 2007 nesta terça.
Já o gigante asiático continua preocupando o mercado diante das dificuldades de retomar o crescimento, principalmente após a série de problemas registrados no setor imobiliário, um dos principais pilares da economia da China.
Na pauta doméstica, os investidores analisaram dados da prévia da inflação de setembro, que subiu 0,35%, conforme dados publicados nesta manhã do Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15). No acumulado de 12 meses, a variação de preços ficou em 5%.
Já o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC publicou a ata da última reunião, finalizada na quarta-feira da semana passada com a redução de 0,50 ponto percentual (p.p.), deixando a Selic em 12,75% ao ano.
Segundo o documento, o colegiado concordou em seguir nesse ritmo de queda ao longo das próximas reuniões, sem acelerar o ciclo de queda.
- Vendas do Tesouro Direto aumentam 2,4% em agosto
As vendas de títulos públicos a pessoas físicas pela internet somaram R$ 3,659 bilhões em agosto, divulgou nesta terça-feira (26) o Tesouro Nacional. O valor subiu 2,4% em relação a julho, mas caiu 4,6% em relação a agosto do ano passado.
O recorde mensal histórico do Tesouro Direto ocorreu em março, quando as vendas somaram R$ 6,842 bilhões.
Os títulos mais procurados pelos investidores em agosto foram os corrigidos pela Selic (juros básicos da economia), cuja participação nas vendas atingiu 66,2%. Os títulos vinculados à inflação (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA) corresponderam a 17,9% do total, enquanto os prefixados, com juros definidos no momento da emissão, foram 11,8%.
Destinados ao financiamento de aposentadorias, o Tesouro Renda+, lançado no início do ano, respondeu por 3,1% das vendas. No primeiro mês de comercialização, o novo título Tesouro Educa+, que pretende financiar uma poupança para o ensino superior, atraiu apenas 0,9% das vendas.
O interesse por papéis vinculados aos juros básicos é justificado pelo alto nível da Taxa Selic. Em agosto de 2021, o Banco Central (BC) começou a elevar a Selic. A taxa, que estava em 2% ao ano, no menor nível da história, ficou em 13,75% ao ano entre agosto de 2022 e agosto deste ano. Mesmo com as quedas recentes nos juros básicos, atualmente em 12,75% ao ano, as taxas continuam atrativas.
O estoque total do Tesouro Direto superou o nível de R$ 120 bilhões pela primeira vez. No fim de agosto, o volume de títulos associados ao programa somava R$ 121,611 bilhões, aumento de 1,35% em relação ao mês anterior (R$ 119,986 bilhões) e de 23,8% em relação a agosto do ano passado (R$ 98,23 bilhões). Essa alta ocorreu porque as vendas superaram os resgates em R$ 607,9 milhões no mês passado.
Em relação ao número de investidores, 468,9 mil novos participantes se cadastraram no programa no mês passado. O número total de investidores atingiu 25.475.824. Nos últimos 12 meses, o número de investidores acumula alta de 23,3%. O total de investidores ativos (com operações em aberto) chegou a 2.373.706, aumento de 14,7% em 12 meses.
A utilização do Tesouro Direto por pequenos investidores pode ser observada pelo considerável número de vendas de até R$ 5 mil, que correspondeu a 85,2% do total de 687.707 operações de vendas ocorridas em agosto. Só as aplicações de até R$ 1 mil representaram 65,5%. O valor médio por operação atingiu R$ 5.320,86.
Os investidores estão preferindo papéis de médio prazo. As vendas de títulos com prazo entre 1 e 5 anos representaram 38%; e aquelas com prazo entre 5 e 10 anos, 46,7% do total. Os papéis de mais de dez anos de prazo representaram 15,3% das vendas.
O balanço completo do Tesouro Direto está disponível na página do Tesouro Transparente.
O Tesouro Direto foi criado em janeiro de 2002 para popularizar esse tipo de aplicação e permitir que pessoas físicas pudessem adquirir títulos públicos diretamente do Tesouro Nacional, via internet, sem intermediação de agentes financeiros.
O aplicador só precisa pagar uma taxa semestral para a B3, a bolsa de valores brasileira, que tem a custódia dos títulos. Mais informações podem ser obtidas no site do Tesouro Direto.
A venda de títulos é uma das formas que o governo tem de captar recursos para pagar dívidas e honrar compromissos. Em troca, o Tesouro Nacional se compromete a devolver o valor com um adicional que pode variar de acordo com a Selic, índices de inflação, câmbio ou uma taxa definida antecipadamente no caso dos papéis pré-fixados.
Fonte: CNN - Agência Brasil