O Ibovespa voltou ao campo negativo e o dólar manteve a trajetória de alta nesta segunda-feira (2), com o sentimento cautela derrubando as principais bolsas no globo, enquanto investidores aguardam por novos dados nos Estados Unidos que podem dar pistas sobre os próximos passos dos juros.
Diante destas pressões, o Ibovespa encerrou a sessão com perda de 1,29%, aos 115.056 pontos.
O resultado foi reforçado pela alta dos juros por toda a curva e com a queda das principais empresas do mercado doméstico.
A Vale (VALE3) perdeu 0,87% em um dia sem o referencial do minério de ferro pelo feriado na China. Já Petrobras (PETR4) recuou 1,5% e o Itaú (ITUB4) cedeu 0,94%.
A busca por proteção levou o dólar a escalar novamente ante o real, fechando a sessão com valorização de 0,8%, negociado a R$ 5,067 na venda.
Ao longo desta semana, serão divulgados dados de indústria, serviços e mercado de trabalho nos EUA, com destaque para o relatório de abertura de vagas fora do setor agrícola, agendado para sexta-feira (6), que será acompanhado de perto pelo Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA).
O acordo de última hora no Congresso norte-americano para evitar uma paralisação do governo chegou a aliviar momentaneamente a confiança global nesta segunda-feira, mas, além da expectativa pelos dados dos EUA desta semana, uma leitura muito fraca da atividade fabril da zona do euro amargou o apetite por risco dos mercados.
No cenário doméstico, o país registrou saldo positivo de mais de 220,8 mil postos de trabalho formal abertos em agosto, o segundo melhor resultado do ano, enquanto a balança comercial registrou superávit de US$ 8,9 bilhões em setembro, o melhor desempenho da série histórica iniciada em 1989.
Enquanto isso, o avanço das taxas dos contratos de DI no Brasil acompanhava o movimento dos rendimentos dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos, conforme persistem as preocupações com um cenário de juros mais altos por mais tempo na maior economia do mundo.
- Balança comercial tem superávit recorde de US$ 8,904 bi em setembro
Beneficiada pela queda nas importações de combustíveis e pela safra recorde de grãos, a balança comercial – diferença entre exportações e importações – fechou setembro com superávit de US$ 8,904 bilhões, divulgou nesta segunda-feira (2) o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC). O resultado é o melhor para meses de setembro e representa alta de 51,2% em relação ao mesmo mês do ano passado, pelo critério da média diária.
Com o resultado de setembro, a balança comercial encerrou os nove primeiros meses do ano com superávit acumulado de US$ 71,309 bilhões, maior resultado para o período desde o início da série histórica, em 1989. Desde agosto, o saldo positivo acumulado supera o superávit comercial recorde de US$ 61,525 bilhões de todo o ano passado.
Em relação ao resultado mensal, as exportações cresceram, enquanto as importações despencaram em setembro. No mês passado, o Brasil vendeu US$ 28,431 bilhões para o exterior, alta de 4,4% em relação ao mesmo mês de 2022 pelo critério da média diária. As compras do exterior somaram US$ 19,527 bilhões, recuo de 17,6% pelo mesmo critério.
Do lado das exportações, a safra recorde de grãos e o aumento da produção de petróleo compensaram a queda internacional no preço de algumas commodities(bens primários com cotação internacional). Do lado das importações, o recuo no preço do petróleo e de derivados foi o principal responsável pela retração.
Após baterem recorde no primeiro semestre do ano passado, após o início da guerra entre Rússia e Ucrânia, as commodities recuaram nos últimos meses. Apesar da subida do petróleo e de outros produtos em setembro, os valores continuam inferiores ao mesmo mês do ano passado.
No mês passado, o volume de mercadorias exportadas subiu 7,2%, enquanto os preços caíram 7,4% em média na comparação com o mesmo mês do ano passado. Nas importações, a quantidade comprada caiu 8,7%, e os preços médios recuaram 14,5%.
Ao comparar o setor agropecuário, a safra recorde de grãos pesou mais nas exportações. O volume de mercadorias embarcadas subiu 41,7% em setembro na comparação com o mesmo mês de 2022, enquanto o preço médio caiu 17,2%. Na indústria de transformação, a quantidade caiu 8,5%, com o preço médio recuando 2,6%. Na indústria extrativa, que engloba a exportação de minérios e de petróleo, a quantidade exportada subiu 20,6%, enquanto os preços médios caíram 9,6%.
Os produtos com maior destaque nas exportações agropecuárias foram animais vivos, exceto pescados ou crustáceos (+560,4%); soja (+38,4%); e milho não moído, exceto milho doce (+16,1%). O destaque positivo é a soja. A safra recorde fez o volume de embarques de soja aumentar 67,8%, mesmo com o preço médio caindo 17,6%.
Na indústria extrativa, as principais altas foram registradas em minérios de cobre e concentrados (+58,5%) e petróleo bruto (+18,7%). No caso do ferro, o valor exportado subiu 3,6%. A quantidade exportada aumentou 3,9%, mas o preço médio caiu 0,2% com a desaceleração da economia chinesa.
Em relação aos óleos brutos de petróleo, também classificados dentro da indústria extrativa, as exportações subiram 18,7%. Os preços médios recuaram 20,3% em relação a setembro do ano passado, mas a quantidade embarcada aumentou 48,8%, impulsionada pelo crescimento da produção.
Na indústria de transformação, as maiores quedas ocorreram na carne bovina fresca, refrigerada ou congelada (-23,7%); celulose (-20,4%); e gorduras e óleos vegetais (-50,4%). A crise econômica na Argentina, principal destino das manufaturas brasileiras, também interferiu no recuo das exportações dessa categoria.
Em relação as importações, os principais recuos foram registrados nos seguintes produtos: milho não moído (-50%) e látex, borracha natural (-48,4%) e trigo e centeio (-26,3%), na agropecuária; gás natural (-68,1%), carvão não aglomerado (-38,2%) e óleos brutos de petróleo (-31,5%), na indústria extrativa; e compostos organo-inorgânicos (-48,5%) e adubos ou fertilizantes químicos (-36,3%), na indústria de transformação.
Em relação aos fertilizantes, cujas compras do exterior ainda são impactadas pela guerra entre Rússia e Ucrânia, a queda deve-se principalmente à diminuição de 50,4% nos preços. A quantidade importada subiu 28,5% em setembro na comparação com setembro do ano passado.
Apesar da desvalorização das commodities, o governo revisou levemente para cima a projeção de superávit comercial. Para 2023, o governo prevê saldo positivo de US$ 93 bilhões, contra projeção anterior de US$ 84,7 bilhões, feita em julho.
Segundo o MDIC, as exportações ficarão estáveis em 2023, subindo apenas 0,02% e encerrando o ano em US$ 334,2 bilhões. As estimativas são atualizadas a cada três meses. As importações recuarão 11,5% e fecharão o ano em US$ 241,1 bilhões.
As previsões estão muito mais otimistas que as do mercado financeiro. O boletim Focus, pesquisa com analistas de mercado divulgada toda semana pelo Banco Central, projeta superávit de US$ 72,1 bilhões neste ano.
Fonte: CNN - Agência Brasil