As previsões do mercado financeiro para os principais indicadores econômicos em 2023 ficaram estáveis, de acordo com a edição do Boletim Focus desta segunda-feira (6). A pesquisa - realizada com economistas - é divulgada semanalmente pelo Banco Central (BC).
Para este ano, a expectativa para o crescimento da economia permaneceu em 2,89%. Já para 2024, o Produto Interno Bruto (PIB - a soma dos bens e serviços produzidos no país - deve ficar em 1,5%. Para 2025 e 2026, o mercado financeiro projeta expansão do PIB em 1,9% e 2%, respectivamente.
Superando as projeções, no segundo trimestre do ano a economia brasileiracresceu 0,9%, na comparação com os primeiros três meses de 2023, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em relação ao segundo trimestre do ano passado, a economia brasileira avançou 3,4%.
O PIB acumula alta de 3,2% no período de 12 meses. No primeiro semestre, a alta acumulada foi de 3,7%.
A previsão para este ano do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - considerada a inflação oficial do país – permaneceu em 4,63% nesta edição do Focus. Para 2024, a estimativa de inflação subiu de 3,9% para 3,91%. Para 2025 e 2026, as previsões são de 3,5% para os dois anos.
A estimativa para 2023 está acima do centro da meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC. Definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta é de 3,25% para 2023, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 1,75% e o superior 4,75%.
Segundo o BC, no último Relatório de Inflação, a chance de o índice oficialsuperar o teto da meta em 2023 é de 67%. A projeção do mercado para a inflação de 2024 também está acima do centro da meta prevista, fixada em 3%, mas ainda situa-se dentro do intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual.
Em setembro, o aumento de preços da gasolina pressionou o resultado da inflação. O IPCA ficou em 0,26%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual foi acima da taxa de agosto, que teve alta de 0,23%.
A inflação acumulada este ano atingiu 3,50%. Nos últimos 12 meses, o índice está em 5,19%, ficando acima dos 4,61% dos 12 meses imediatamente anteriores.
Para alcançar a meta de inflação, o Banco Central usa como principal instrumento a taxa básica de juros - a Selic - definida em 12,25% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). O comportamento dos preços já fez o BC cortar os juros pela terceira vez no semestre, em um ciclo que deve seguir com cortes de 0,5 ponto percentual nas próximas reuniões. Após sucessivas quedas no fim do primeiro semestre, a inflação voltou a subir na segunda metade do ano, mas essa alta era esperada por economistas.
Ainda assim, em comunicado divulgado na semana passada, o Copom indicou que poderá mudar o tempo do período de cortes, caso as condições tornem mais difícil reduzir juros.
De março de 2021 a agosto de 2022, o Copom elevou a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo de aperto monetário que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis. Por um ano, de agosto do ano passado a agosto deste ano, a taxa foi mantida em 13,75% ao ano por sete vezes seguidas.
Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica iniciada em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.
Para o mercado financeiro, a Selic deve encerrar 2023 em 11,75% ao ano. Para o fim de 2024, a estimativa é que a taxa básica caia para 9,25% ao ano. Para o fim de 2025 e de 2026, a previsão é de Selic em 8,75% ao ano e 8,5% ao ano, respectivamente.
Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Mas, além da Selic, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas. Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia.
Quando o Copom diminui a Selic, a tendência é que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle sobre a inflação e estimulando a atividade econômica.
Por fim, a previsão do mercado financeiro para a cotação do dólar está em R$ 5 para o fim deste ano. Para o fim de 2024, a previsão é que a moeda americana fique em R$ 5,05.
Com alta no superávit comercial, as contas externas do país tiveram saldo negativo menor em setembro, chegando a US$ 1,375 bilhão, informou nesta segunda-feira (6) o Banco Central (BC). No mesmo mês de 2022, o déficit foi de US$ 6,940 bilhões nas transações correntes, que são as compras e vendas de mercadorias e serviços e transferências de renda com outros países.
A diferença na comparação interanual é resultado do superávit comercial, que aumentou R$ 5,2 bilhões. Colaborando para o resultado, o déficit em renda primária (pagamento de juros e lucros e dividendos de empresas) recuou em US$ 820 milhões. Por outro lado, o déficit em serviços aumentou US$ 191 milhões.
Em 12 meses encerrados em setembro, o déficit em transações correntes foi de US$ 39,832 bilhões, 1,92% do Produto Interno Bruto (PIB, a soma dos bens e serviços produzidos no país), ante o saldo negativo de US$ 45,397 bilhões (2,21% do PIB) em agosto deste ano e déficit de US$ 56,944 bilhões (3,09% do PIB) no período equivalente terminado em setembro de 2022.
Já no acumulado do ano, o déficit é de US$ 20,895 bilhões, contra saldo negativo de US$ 34,682 bilhões nos primeiros nove meses de 2022.
As exportações de bens totalizaram US$ 28,675 bilhões em setembro, redução de 5,2% em relação a igual mês de 2022. As importações somaram US$ 21,463 bilhões, queda de 23,8% na comparação com setembro do ano passado. Com esses resultados, a balança comercial fechou com o superávit de US$ 7,212 bilhões no mês passado, ante saldo positivo de US$ 2,059 bilhões em setembro de 2022.
É o maior superávit comercial para o mês de setembro da série histórica do BC, iniciada em 1995.
O déficit na conta de serviços - viagens internacionais, transporte, aluguel de equipamentos e seguros, entre outros - somou US$ 3,279 bilhões em setembro, aumento de 6,2% ante os US$ 3,088 bilhões em igual mês de 2022. Houve redução no déficit em transporte e aumento em viagens e aluguel de equipamentos.
O déficit na rubrica de transportes passou US$ 1,837 bilhão em setembro de 2022 para US$ 976 milhões no mês passado, recuo de 46,9%. Mês a mês, a melhora vem sendo influenciada por gastos menores em fretes, que tiveram redução devido à queda nos preços internacionais, além queda das quantidades importadas.
No caso das viagens internacionais, há trajetória de recuperação, mas o crescimento do déficit segue em patamares inferiores ao período antes da pandemia da covid-19. Seguindo a tendência dos meses recentes, as receitas de estrangeiros em viagem ao Brasil cresceram 36,1% na comparação interanual e chegaram a US$ 566 milhões em setembro, contra US$ 416 milhões no mesmo mês de 2022.
As despesas de brasileiros no exterior passaram de US$ 907 milhões em setembro do ano passado para em US$ 1,241 bilhão no mesmo mês de 2023, aumento de 36,7%. Com isso, o déficit na conta de viagens fechou o mês com alta de 37,2% frente ao observado em setembro de 2022, chegando a US$ 674 milhões, ante déficit de US$ 491 milhões no mesmo mês do ano passado.
Já em aluguel de equipamentos, as despesas líquidas somaram US$ 750 milhões, aumento de 9,8% em comparação a setembro de 2022, que ficou em US$ 683 milhões.
Em setembro, o déficit em renda primária - lucros e dividendos, pagamentos de juros e salários - chegou a US$ 5,468 bilhões, redução de 13% ante os US$ 6,288 bilhões no mesmo mês de 2022. Normalmente, essa conta é deficitária, já que há mais investimentos de estrangeiros no Brasil – e eles remetem os lucros para fora do país - do que de brasileiros no exterior.
As despesas líquidas com juros passaram de US$ 1,240 bilhão em setembro de 2022 para US$ 2,128 bilhões no mês passado. No caso dos lucros e dividendos associados aos investimentos direto e em carteira, houve déficit de US$ 3,369 bilhões no mês de setembro deste ano, frente ao observado em setembro de 2022, de US$ 5,064 bilhões.
A conta de renda secundária - gerada em uma economia e distribuída para outra, como doações e remessas de dólares, sem contrapartida de serviços ou bens - teve resultado positivo de US$ 160 milhões no mês passado, contra superávit US$ 377 milhões em setembro de 2022.
Os ingressos líquidos em investimentos diretos no país (IDP) foram menores na comparação interanual, em razão da queda nas operações intercompanhias. O IDP somou US$ 3,752 bilhões em setembro último, ante US$ 9,628 bilhões em setembro de 2022.
De acordo com o chefe do Departamento de Estatística do BC, a base de comparação de setembro de 2022 está elevada pois, no ano passado, muitas companhias realizaram os investimentos que estavam represados desde a pandemia. Em 2019, na pré-pandemia, o IDP foi de US$ 69,174 bilhões. Em 2020, ele ficou em US$ 37,786 bilhões. Já em 2021, houve crescimento, mais ainda abaixo dos valores do pré-pandemia, para US$ 46,439 bilhões.
“Em 2022, com abertura praticamente integral do país, tivemos o primeiro ano de funcionamento normal da economia e fechamos o ano com IDP de US$ 87,245 bilhões. Não só continuou a retomada da atividade, como foi superior ao patamar pré-pandemia, com aquele montante que estava atrasado ocorrendo em 2022”, explicou em coletiva virtual de imprensa para apresentar os resultados.
Para este ano, a precisão do BC é que os investimentos diretos no país cheguem a US$ 65 bilhões.
O IDP acumulado em 12 meses totalizou US$ 60,042 bilhões (2,89% do PIB) em setembro de 2023, ante US$ 65,918 bilhões (3,21% do PIB) no mês anterior e US$ 72,060 bilhões (3,91% do PIB) no período encerrado em setembro de 2022.
Quando o país registra saldo negativo em transações correntes, precisa cobrir o déficit com investimentos ou empréstimos no exterior. A melhor forma de financiamento do saldo negativo é o IDP, porque os recursos são aplicados no setor produtivo e costumam ser investimentos de longo prazo.
No caso dos investimentos em carteira no mercado doméstico, houve entradas líquidas de US$ 1,835 bilhão em setembro de 2023, compostas por saídas líquidas de US$ 477 milhões em ações e fundos de investimento e por ingressos líquidos de US$ 2,311 bilhão em títulos de dívida. Nos 12 meses encerrados em agosto, os investimentos em carteira no mercado doméstico somaram ingressos líquidos de US$ 15,8 bilhões.
O estoque de reservas internacionais atingiu US$ 340,324 bilhões em setembro, redução de US$ 3,853 bilhões em comparação ao mês anterior.
Fonte: Agência Brasil