Teto para o rotativo do cartão de crédito entra em vigor nesta quarta-feira (03)
Para concluir que quanto mais se gasta, menos se tem, basta uma subtração simples. Para subverter a matemática e estender o orçamento, o cartão de crédito cobra juros sobre juros.
"À medida que você tem essas facilidades com relação a crédito no cartão de crédito, ou mesmo a conta especial em banco, isso faz com que as pessoas raciocinem, ou utilizem esse crédito como se fosse um complemento do seu salário, e aí justamente pela falta de educação financeira, as pessoas naturalmente acabam se endividando cada vez mais", analisa o professor de economia do Insper, Otto Nogami.
Desde a crise que veio com a pandemia, vimos as famílias brasileiras usarem o crédito pra contas básicas.
"Conta de água, de gás, de luz porque ta sendo tudo, no crédito, eu uso no cartão da minha filha [...] quando atrasa a primeira parcela, a gente manda ela parcelar e paga novamente", conta a diarista Márcia Alves de Souza.
"Sim, eu uso sempre. Além de vantagem de acumular pontos, eu pago uma conta só no mês. Tudo passa pelo crédito. [...] Sempre de olho na fatura. Todo dia", afirma o engenheiro químico Felipe Ferreira Silva.
"Ah, é mais fácil, né, fica para o próximo mês. as contas ficam mais leves. Tomando cuidado dá tudo certo. Não pode passar do limite", comenta a estudante Sara Beatriz Barros de Lara.
A partir desta quarta-feira (3), os juros do rotativo não poderão ultrapassar 100% do valor da dívida original.
Por exemplo: com uma dívida original R$ 100,00, o valor a ser pago, com juros e encargos, não poderá passar de R$ 200,00.
A medida prevista na lei do Desenrola foi sancionada pelo presidente Lula no início de outubro.
Naquele mês, os juros do rotativo superaram os 430% ao ano.
"Eu espero que cada vez mais tenhamos taxas menores, né? Principalmente para fomentar aí o crescimento do país e a população em geral. Enfim, não ficar com esse transtorno desse endividamento, né? Que a pessoa estoura o cartão de crédito, aí precisa de uma outra fonte de crédito, não consegue, fica apertado, não consegue pagar e tem que renegociar. Enfim, você trava a vida da pessoa por vários meses", comenta o economista e professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), André Aroldo Freitas de Moura.
Os economistas lembram que uma taxa de 100% no rotativo significa dobrar a dívida a cada ano. É bastante! O suficiente para se enrolar. Para melhorar a relação com o dinheiro, recomendam só gastar no cartão de crédito se tiver recurso guardado ou até aplicado para quitar a próxima fatura.
"Receber o salário, aplicar o salário, fazer as despesas do mês com o cartão de crédito, e aí depois desses 30 dias pagar com aquele salário aplicado a fatura do cartão de crédito. Ou seja, manter sempre esse endividamento, vamos colocar assim, a nível zero. À medida que o dinheiro trabalha para nós, nós podemos usufruir dos benefícios que ele acaba criando ao longo do tempo", orienta Otto Nogami.
A Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs) declarou que analisa os impactos da nova resolução com os associados.
Já a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) afirmou que a regulamentação do Conselho Monetário Nacional disciplinou pontos cruciais para a correta aplicação da lei que limita os juros do rotativo.
Mas segundo a Febraban, as causas dos elevados juros do rotativo não foram estruturalmente solucionadas, o que impacta diretamente os consumidores que precisam dessa linha de crédito.
A Febraban afirma ainda que vai continuar a buscar soluções para uma efetiva redução dos juros que beneficie especialmente a população de renda mais baixa.
Fonte. g1