O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) confirmou os sinais e cortou os juros em 0,50 ponto percentual (p.p.) nesta quarta-feira (31). O movimento passa a Selic de 11,75% para 11,25% ao ano, o menor patamar desde o primeiro trimestre de 2022. A decisão foi unânime.
O tamanho do corte veio em linha ao praticado pelo BC nas últimas reuniões e já era esperado pelos analistas do mercado financeiro.
O colegiado iniciou o atual ciclo de queda dos juros em agosto de 2023, quando a taxa passou de 13,75% para 13,25% ao ano — a primeira redução desde 2020.
Esta foi o primeiro encontro do Copom em 2024, que se reúne a cada 45 dias para debater os rumos dos juros no país. Para este ano estão previstas oito reuniões, com a próxima agendada para os dias 19 e 20 de março.
Em nota, o BC afirmou que deve manter este ritmo de corte nos próximos encontros caso o atual panorama se mantenha e que os membros do colegiado “avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”. A decisão também foi unânime.
“O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, informou.
Segundo o BC, o cenário internacional segue volátil e inspira cautela para emergentes na medida que núcleos de inflação ainda seguem elevados em diversos países.
“Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho”, pontuou.
Já na cena doméstica, os membros do BC pontuaram que os sinais da economia seguem em consistência com a desaceleração das atividades previstas.
O colegiado ainda destacou o cenário fiscal do país e importância do cumprimento das metas para a ancoragem das expectativas da inflação doméstica.
“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”, disse.
A nota do Copom ainda pregou “serenidade e moderação” nos próximos passos da política de juros e destacou que o cenário atual é caracterizado por “um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador”.
“O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”.
Os analistas do mercado financeiro esperam novos cortes nos próximos encontros do Copom, mantendo a estratégia de rebaixamento da Selic observado a partir do segundo semestre do ano passado.
Segundo dados do Boletim Focus, pesquisa do BC que reúne a mediana de mais de uma centena de agentes do mercado e instituições para os principais indicadores econômicos, divulgados nesta terça-feira (30), a taxa de juros deve chegar a 9% ao fim de 2024, a mesma previsão das últimas cinco semanas.
O recorte mensal da pesquisa mostra que em março, quando o Copom se encontra pela segunda vez neste ano, os juros caiam novamente 0,50 p.p., passando para 10,75%.
A expectativa é fundamentada pelos sinais que o BC deu em dezembro de 2023, quando realizou a última reunião do ano e indicou a manutenção do ritmo de corte dos juros para os próximos encontros.
“Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”, informou.
O cenário inflacionário também abre margem para apostas na manutenção do ciclo de queda.
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o indicador oficial da inflação brasileira, encerrou o ano passado com alta de 4,62% após superar o teto da meta imposta ao BC em 2021 e 2022.
- Queda da Selic barateia pouco crédito e prestações, diz Anefac
A redução da taxa Selic (juros básicos da economia) para 11,25% ao ano, decidida nesta quarta-feira (31) pelo Banco Central, barateará pouco o crédito e as prestações, segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Com o impacto na ponta final diluído, por causa da diferença muito grande entre a taxa básica e os juros efetivos de prazo mais longo, o tomador de novos empréstimos sentirá pouco os efeitos do afrouxamento monetário.
Segundo a Anefac, o juro médio para as pessoas físicas passará de 121,29% para 120,30% ao ano. Para as pessoas jurídicas, a taxa média sairá de 57,84% para 57,11% ao ano. A Selic passou de 11,75% para 11,25% ao ano.
No financiamento de uma geladeira de R$ 1,5 mil em 12 prestações, o comprador desembolsará R$ 0,39 a menos por prestação e R$ 4,62 a menos no valor final com a nova taxa Selic. O cliente que entra no cheque especial em R$ 1 mil por 20 dias pagará R$ 0,27 a menos.
Na utilização de R$ 3 mil do rotativo do cartão de crédito por 30 dias, o cliente gastará R$ 1,20 a menos. Um empréstimo pessoal de R$ 5 mil por 12 meses cobrará R$ 1,23 a menos por prestação e R$ 14,79 a menos após o pagamento da última parcela.
Um empréstimo de R$ 3 mil em 12 meses numa financeira sairá R$ 0,81 mais barato por prestação e R$ 9,66 mais barato no total. No financiamento de um automóvel de R$ 45 mil por 60 meses, o comprador pagará R$ 12,51 a menos por parcela e R$ 750,42 a menos no total da operação.
Em relação às pessoas jurídicas, as empresas pagarão R$ 62,39 a menos por um empréstimo de capital de giro de R$ 50 mil por 90 dias, R$ 24,86 a menos pelo desconto de R$ 20 mil em duplicatas por 90 dias e R$ 2,67 a menos pela utilização de conta garantida no valor de R$ 10 mil por 20 dias.
A Anefac também produziu uma simulação sobre o impacto da nova taxa Selic sobre os rendimentos da poupança. Com a taxa de 11,25% ao ano, a caderneta só rende mais que os fundos de investimento quando a taxa de administração cobrada pelos fundos é alta.
Segundo as simulações, a poupança rende mais que os fundos em apenas dois cenários: quando o correntista aplica em fundos com taxa de administração de 3% ao ano e aplicação de até um ano em fundos com taxa de 2,5% ao ano.
Na comparação com fundos com taxa de administração de 2% ao ano, a poupança rende o mesmo quando o dinheiro ficar aplicado por até seis meses.
A vantagem dos fundos ocorre mesmo com a cobrança de Imposto de Renda e de taxa de administração. Isso porque a poupança, apesar de ser isenta de tributos, rende apenas 6,17% ao ano (0,5% ao mês) mais a Taxa Referencial (TR), que aumenta quando a Selic sobe. Esse rendimento da poupança é aplicado quando a Selic está acima de 8,5% ao ano, o que ocorre desde dezembro de 2021.
Fonte: CNN - Agencia Brasil