O Ibovespa encerrou no melhor patamar em um mês e o dólar recuou ante o real nesta quinta-feira (27), com força da Suzano puxando o mercado e investidores digerindo falas do presidente Lula, além de dados do Relatório Trimestral da Inflação e apresentação do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
Na cena corporativa, Suzano (SUZB3) disparou quase 12,2%, com investidores repercutindo positivamente ao anúncio de que a compra da International Paper não foi encaminhada.
Na ponta oposta, as ações da Sabesp (SBSP3) recuaram 2,8% após a Equatorial (EQTL3) ser a única a formalizar proposta pela posição de acionista de referência no processo de privatização da companhia. Já os papéis da Equatorial figuraram entre as maiores altas, com avanço de 6,29%.
No cenário externo, as atenções se voltaram para as disputas eleitorais, com o primeiro debate entre o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e seu oponente Donald Trump mais tarde, e a eleição parlamentar na França no fim de semana.
Dados sobre o Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA no primeiro trimestre também geravam repercussões, enquanto os investidores buscam projetar o futuro da política monetária do Federal Reserve.
O principal índice do mercado doméstico encerrou a sessão com alta de 1,36%, aos 124.307 pontos, o melhor desempenho desde 27 de maio (124.495 pontos).
Após operar com volatilidade e chegar a renovar a máxima desde janeiro de 2022, o dólar perdeu fôlego e encerrou com baixa de 0,2%, negociado a R$ 5,508 na venda.
No Brasil, o BC informou, por meio do Relatório de Inflação, que sua projeção para o PIB este ano passou de 1,9% para 2,3% — ainda abaixo dos 2,5% estimados pelo Ministério da Fazenda.
Falando a repórteres, Campos Neto disse que pronunciamentos feitos pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva impactam negativamente preços de mercado e que o efeito desses movimentos pode dificultar a atuação da autoridade monetária.
“O que se mostrou no passado recente, não é uma opinião minha, é uma constatação, quando a gente olha movimentos de mercado em tempo real com os pronunciamentos, você teve piora em algumas variáveis macroeconômicas, em alguns preços de mercado”, disse.
Ele acrescentou que o real apresentou desvalorização em linha com variáveis que simbolizam o prêmio de risco do Brasil.
Roberto Campos Neto ainda afirmou que o aumento dos juros não faz parte do cenário base da autarquia.
Segundo presidente do BC, o Comitê de Política Monetária (Copom) optou de forma unânime na última reunião em não dar previsões dos próximos passos da Selic, também chamando de guidance.
“A gente entende que a linguagem adotada é muito compatível em não ter dado guidance para o futuro neste momento”, afirmou durante apresentação do Relatório Trimestral da Inflação publicado nesta manhã.
Campos Neto ainda rechaçou deixar o cargo antes do fim do mandato, em 31 de dezembro deste ano, e destacou que o novo regime de meta contínua de inflação não significa maior ou menor suavização à política monetária.
Também nesta manhã, o presidente Lula criticou reportagens que remeteram nesta quarta a maior cotação do dólar em relação ao real a declarações feitas por ele em entrevista ao portal UOL.
“Ontem, depois da minha entrevista ao UOL, saíram manchetes dizendo que o solar tinha subido por causa da entrevista do Lula. Os cretinos não perceberam que o dólar tinha subido 15 minutos antes de eu dar a entrevista”, escreveu o presidente em sua conta do X.
Ainda na pauta política, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o presidente Lula “nunca desautorizou” a equipe econômica a buscar o equilíbrio das contas públicas.
Segundo Haddad, Lula não se opôs à busca pelo crescimento das receitas e ainda “encomendou” um “redesenho” de políticas públicas.
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- Haddad diz que inflação média do governo Lula será inferior a 4%
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o atual mandato do presidente Lula terá uma inflação média inferior a 4%, percentual que é o menor desde que foi adotado o regime de metas. Ainda segundo o ministro, o crescimento médio do país vai beirar os 3%. A declaração foi feita no Itamaraty, durante a 3ª Reunião Plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável, mais conhecido como Conselhão.
“Presidente, é absolutamente possível o senhor terminar o seu mandato com uma inflação média abaixo de 4% e com um crescimento médio beirando os 3%”, disse Haddad ao lembrar que a meta é inflação em 2025 chegar a apenas 3%.
“Isso, para você ter uma ideia, é a menor inflação média de todos os mandatos desde que o regime de metas de inflação foi criado no Brasil. Portanto, aqueles que acusam o presidente Lula de não estar prestando atenção na inflação, na verdade não estão prestando atenção nos dados que estamos divulgando pelo IBGE a todo momento, mostrando que nós estamos convergindo para meta, que é uma meta exigente, e que foi ontem reafirmada na reunião do Conselho Monetário Nacional”, acrescentou.
O olhar positivo sobre a economia do país foi compartilhado pelo presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney. “É preciso que nós reconheçamos que o Brasil, apesar do contexto mundial adverso, vem colhendo frutos e resultados positivos do trabalho econômico do ministro Fernando Haddad”, disse o representante do grupo de trabalho de crédito do Conselhão.
“Basta olharmos o PIB (Produto Interno Bruto) do ano passado e o do primeiro trimestre [de 2024], que apresentaram uma expansão robusta. Isso nos deixa bastante entusiasmados. Vemos que o que tem contribuído para o PIB é o consumo das famílias. Temos observado uma demanda doméstica pujante. Espero, ainda, uma retomada dos investimentos”, disse o executivo da Febraban.
Isaac Sidney destacou também o bom desempenho do mercado de trabalho que, segundo ele, está aquecido, com níveis muito baixos de desemprego, e de massa salarial com crescimento forte do ponto de vista da renda.
“A inflação está na meta. Estamos com projeções para 4% neste ano. A balança comercial está batendo recordes e as nossas reservas internacionais estão funcionando como se fosse uma blindagem. O grande desafio que temos é o de não deixar esse processo de retomada do crescimento perder tração”, disse.
Ele lembrou que esses resultados positivos foram obtidos em meio a um cenário externo complicado do qual nenhum país está imune. “Existem ruídos de uma eventual fragilidade fiscal. Entendo e respeito esse argumento, mas é importante destacar, sobretudo, que o ministro Haddad tem reafirmado sua determinação e compromisso com o arcabouço fiscal”, acrescentou.
Falando em nome do Comitê Gestor do Conselho, o coordenador do Fórum das Centrais Sindicais, Clemente Ganz, também destacou os bons resultados da economia, mas lamentou que, quando citados, vêm sempre acompanhados de previsões sobre crises que não se confirmam.
“Se observarmos como esses resultados aparecem no debate público vemos que, no geral, com resultados como o de que o emprego cresceu, anuncia-se também que o país está vivendo uma crise que não conseguimos observar”, criticou ao convocar os integrantes do Conselhão a atuarem para mudar essas manchetes, de forma a dar mais qualidade ao debate público sobre os resultados alcançados.
Representando a Comissão de Assuntos Econômicos do Conselhão, o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, propôs uma reflexão sobre a dívida pública do país, que leve em conta o fato de ela ser proporcionalmente menor do que a de diversos outros países.
Segundo ele, há casos em que esse tipo de dívida pode ser positiva para o país. “Temos uma grande questão que se chama dinâmica da dívida pública. Todos sabemos que em muitos países é muito maior percentual dela em relação ao PIB. Temos que, talvez, fazer reflexão entre a dívida pública boa e a dívida pública ruim. Dívida pública boa é aquela que permite investimento, geração de riqueza, emprego e desenvolvimento social. Dívida pública ruim é aquela que mantém uma máquina pública altamente pesada para o país.”
Fonte: CNN - Agência Brasil