Economia

Ibovespa sobe 2,1% na semana e bate 10 sessões seguidas de altas; dólar recua a R$ 5,43





Mercado reage positivamente à expectativa de corte dos juros nos EUA e novas falas de Haddad sobre fiscal 

O Ibovespa engatou a 10ª alta seguida e o dólar fechou em queda ante o real nesta sexta-feira (12), com investidores analisando novos comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre o cenário fiscal.

Na cena internacional, mercados digeriram novos dados da inflação dos Estados Unidos em meio ao fortalecimento das apostas de corte de juros pelo Federal Reserver (Fed) em setembro.

O principal índice do mercado brasileiro fechou a sessão com avanço de 0,47%, aos 128.896 pontos, o 10º resultado positivo e a maior sequência entre o fim de 2017 e o início de 2018, quando o Ibovespa avançou por 11 pregões consecutivos.

O desempenho fez o índice acumular alta semanal de 2,08%, na 4ª semana seguida de valorização — a melhor sequência desde dezembro do ano passado.

Apesar disso, a performance acumulada no ano segue no vermelho, com queda de quase 4%.

O clima positivo levou o dólar a fechar a sessão com baixa de 0,2%, negociado a R$ 5,430 na venda, se distanciando dos picos de R$ 5,70 vistos na semana passada.

A divisa norte-americana acumulou avanço de 0,58%. Esta foi a segunda baixa semanal consecutiva, após uma série de seis semanas de ganhos. 

Haddad defende fiscal

Haddad defendeu que a expansão fiscal neste momento não é boa para o Brasil e afirmou que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva cortará gastos primários para ajustar as contas públicas se for necessário.

Segundo ele, o equilíbrio das contas públicas vai permitir a queda dos juros e o crescimento da economia.

“Estamos desde 2014 ou 2015 produzindo déficit pesado”, disse Haddad em sua fala. “Isso melhorou a vida de alguém?”, questionou durante sabatina em Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji).

Haddad também negou ter convencido Lula a baixar a tensão com o Banco Central, mas afirmou que o presidente teve “certa razão” de ficar insatisfeito com atitudes da autarquia.

Haddad ainda disse que os dados econômicos divulgados recentemente têm surpreendido positivamente e que o Brasil vai crescer com inflação em queda.

“Peguem os dados dessa semana. Saíram os dados do varejo, surpreendeu. Saíram os dados de serviços, surpreendeu. Saíram os dados da inflação, surpreendeu. Ou seja, o Brasil continua crescendo com inflação em queda. Nós podemos ter um mandato me que o crescimento surpreende, a inflação surpreende, positivamente”, disse.

EUA e a inflação

Nos Estados Unidos, o Departamento do Trabalho informou que o índice de preços ao produtor para a demanda final subiu 0,2% em junho, depois de ter ficado inalterado em maio.

Economistas consultados pela Reuters haviam previsto alta de 0,1%. Nos 12 meses até junho, o índice subiu 2,6%, depois de avançar 2,4% em maio.

O aumento moderado dos preços ao produtor surge após o Departamento do Trabalho ter informado na véspera uma queda inesperada do índice de preços ao consumidor de 0,1% em junho, dando força às apostas de que o Federal Reserve deve iniciar seu ciclo de cortes de juros em setembro.

 

Haddad atribui a má avaliação da economia à desinformação

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse nesta sexta-feira (12) que a má avaliação do desempenho da economia brasileira está atrelado à "desinformação" nas redes sociais.

"O que eu vejo na rede social é um negócio avassalador de desinformação. E isso não parte dos meios de comunicação. O que eu vejo nas redes é muito sério porque não bate com a realidade. Dizem que o desemprego está aumentando, mas o desemprego é o mais baixo da série histórica. Falam que a renda está caindo, mas há 28 anos não tínhamos um incremento como o que tivemos em 2023”, disse o ministro durante sabatina no 19° Congresso Internacional de Jornalismo Investigativo da Abraji, em São Paulo.

"Temos uma oposição que realmente atua para minar a credibilidade das instituições, dos dados oficiais, do Estado brasileiro, e eles atuam diuturnamente nas redes sociais. Eu nunca vi um negócio desse, é uma prática protofascista mesmo, não tem outra palavra", afirmou.

Para o ministro, a desinformação é um desafio que precisa ser enfrentado. "Eu penso que nós temos um desafio comunicacional hoje, porque quando você pergunta se a pessoa está melhor do que o ano passado ou retrasado, ela diz que está. Quando você pergunta se a economia está melhor, ela diz que não necessariamente. Metade diz que está e metade diz que não está", acrescentou.

Reforma tributária

Durante a sabatina, Haddad foi questionado sobre a votação da regulamentação da reforma tributária. Para ele, a quantidade de exceções incluídas pela Câmara no texto é preocupante. “Toda exceção, de certa maneira, acaba prejudicando a reforma tributária porque a alíquota padrão vai subindo. Nós temos três formas de diminuir a alíquota,  uma é não ter exceção, a segunda é combater a sonegação e a terceira é aumentar o imposto sobre a renda”, explicou Haddad. 

“Você manda um projeto coerente com essas três estratégias. Mas você sabe que o Brasil é um país patrimonialista. Os grupos de interesse se apossam do Estado brasileiro, desde o fim do Império é assim. O papel do poder público é ir blindando o Estado brasileiro, e a reforma tributária é um grande salto patrimonialista”, afirmou.

Uma das exceções foi a inclusão da carne na cesta básica nacional, que passa a integrar a lista de produtos que terão isenção tributária, com impactos sobre a alíquota padrão do Imposto sobre Valor Agregado (IVA). 

Para o ministro, o aumento no cashback - devolução de tributos a famílias incluídas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal (CadÚnico) - para compensar a manutenção da carne na lista de produtos com alíquota reduzida para 40% da alíquota cheia, seria uma boa ideia.

“O cashback era uma boa alternativa. Em vez de zerar o imposto da carne para todo mundo, mantinha ele baixo e devolvia para a população de baixa renda”, defende.

Ao ser questionado se se sentia derrotado com a inclusão da carne na cesta básica, o ministro brincou: “O ministro da Fazenda ou é derrotado ou é parcialmente derrotado. Não existe alternativa para ele ganhar, isso não está no horizonte”.

Após ter sido aprovado pela Câmara, o texto-base do primeiro projeto de lei complementar que regulamenta a reforma tributária segue para discussão e votação no Senado. O ministro acredita que o Senado deve aprovar o projeto. “Tivemos um entendimento muito bom na Câmara, e penso que vai ser a mesma coisa no Senado. Talvez com um pouco mais de dificuldade, mas eu tenho certeza que vamos aprovar a reforma tributária”, avalia.

Equilíbrio fiscal

O ministro Haddad reiterou o seu compromisso com o equilíbrio fiscal. “Eu não acredito que a expansão fiscal, neste momento, seja boa para o Brasil. Ao contrário, eu penso que se nós fizermos uma contenção desse período de 10 anos, nós temos espaço na política monetária de corte de juros para promover um desenvolvimento sustentável, para o investimento privado aumentar. O objetivo de equilíbrio das contas é o que vai fazer o juro cair e o Brasil crescer”, disse.

Segundo o ministro, o país ainda tem “muita conta para pagar”, herança que teria sido deixada pelo governo anterior, de Jair Bolsonaro. “O Brasil, do ponto de vista fiscal, viveu duas pandemias. A pandemia propriamente dita [da covid-19] e a eleição de 2022, que teve calote. Passaram a mão no dinheiro dos governadores e abriram os cofres do Tesouro para distribuir benefícios em época eleitoral. É uma confusão fiscal que nós vamos ter que ter paciência para pôr em ordem”.

Democracia

O ministro da Fazenda disse ainda que prefere estar em um partido em que há debates e em que se faça a defesa da democracia. "Ou você está em um partido democrático ou não está. E prefiro estar em um onde haja debate", disse, acrescentando que "é melhor assim, é melhor à luz do dia, é melhor um debate frontal do que aqueles movimentos de bastidores, comuns na República brasileira, de minar a base de uma política sorrateiramente. As pessoas são transparentes, falam o que pensam, e eu falo o que eu penso também", disse.

 

Fonte: CNN - Agência Brasil