Economia

Dólar se aproxima de R$ 5,60 com volta de temor fiscal; Ibovespa derrete a 127 mil pontos





Divisa norte-americana tem acumulado ganhos sobre real após declarações de Lula sobre cumprimento do arcabouço fiscal 

O dólar encerrou esta quinta-feira (18) em forte alta, à medida que aumentam as preocupações de investidores com o ajuste das contas públicas brasileiras após falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A moeda norte-americana subiu 1,89%, negociada a R$ 5,5887, à medida que investidores retomam posições defensivas no Brasil por conta do cenário fiscal. Em dois dias a divisa saltou 2,94%, ou o equivalente a 16 centavos de real.

Já o principal índice da bolsa paulista amargou queda de 1,39%, a 127.652,06 pontos.

Entre os principais destaques negativos no pregão desta quinta estavam empresas de proteínas com força no ramo de aves.

Pela primeira vez, desde 2006, o Brasil detectou em uma ave um caso da doença de Newcastle. O governo federal confirmou na noite de quarta-feira (17) que uma amostra testou positivo para a doença viral, dizendo que veio de uma granja de aves comerciais no município de Anta Gorda (RS).

A doença de Newcastle é viral e afeta aves domésticas e selvagens, causando problemas respiratórios, entre outros sintomas. Sua notificação é obrigatória de acordo com as diretrizes da Organização Mundial de Saúde Animal.

As ações da BRF, dona das marcas Perdigão e Sadia, perderam 7,88% de valor no pregão, encerrando o dia em R$ 20,81. Já a Marfrig, que é acionista majoritária da BRF, perdeu 9,08%, com os papéis cotados em R$ 11,22 no final do dia.

A Minerva Foods também viu queda nas suas ações, de 4,49 %, a R$ 6,59.

Cenário doméstico

Nesta semana, a divisa norte-americana tem acumulado ganhos sobre o real após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em que questionou o cumprimento do arcabouço fiscal caso existam “coisas mais importantes para fazer”.

As falas do presidente em entrevista à TV Record reacenderam temores do mercado sobre o compromisso do governo com o equilíbrio fiscal, dias antes da divulgação do Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas do terceiro bimestre, em que o Executivo precisará apontar como pretende cumprir a meta de déficit zero neste ano.

Mais cedo, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, disse que Lula determinou que o governo não deve gastar mais do que arrecada, premissa que, segundo ela, deve se refletir no Orçamento para o próximo ano.

“Nós temos um compromisso com o país, por determinação do presidente e da equipe econômica, de não gastar mais do que arrecada“, disse Tebet em entrevista ao programa “Bom dia, ministra”, do CanalGov.

Os comentários da ministra aliviaram os investidores.

“Foi uma boa sinalização em termos de falas, mas o mercado fica um pouco cético sobre se isso vai ser efetivamente colocado em prática”, disse Gabriel Mota, operador de renda variável da Manchester Investimentos.

“Isso [falas de Tebet] deveria aliviar um pouco a pressão, mas não é algo que estamos vendo agora”, acrescentou.

Exterior

No cenário externo, os mercados analisavam a decisão de juros do Banco Central Europeu e dados de auxílio-desemprego nos Estados Unidos.

A autoridade monetária da zona do euro decidiu manter sua taxa de depósito inalterada em 3,75%, como esperado por analistas, após um corte de 25 pontos-base na reunião anterior, o que havia iniciado um ciclo de afrouxamento monetário há muito aguardado.

As autoridades do BCE também reiteram seu compromisso com o retorno da inflação na zona do euro a sua meta de 2%, afirmando que os juros permanecerão suficientemente restritivos pelo tempo necessário. Eles não sinalizaram como devem agir nos próximos encontros.

Investidores também digeriam novos dados de auxílio-desemprego dos EUA que vieram acima do esperado, reforçando o argumento de que o mercado de trabalho passa por um processo de moderação.

O Departamento de Trabalho dos EUA relatou que os pedidos iniciais de auxílio-desemprego aumentaram em 20.000 em relação a semana anterior, a 243.000, acima da expectativa de 230.000 de especialistas consultados pela Reuters.

O dado, somado a números de inflação mais benignos no segundo semestre, devem reforçar a expectativa de um corte de juros pelo Federal Reserve em setembro.

Os operadores estão precificando um corte inicial em setembro, com a possibilidade de dois cortes adicionais até o fim do ano. Quanto mais o banco central dos EUA cortar os juros, pior para o dólar, que se torna comparativamente menos interessante quando os rendimentos dos Treasuries diminuem.

Apesar dos números, o índice do dólar – que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas – subia 0,22%, a 103,9.

Fonte: CNN - Reuters