O dólar voltou a renovar a máxima em quase três anos e o Ibovespa fechou em queda nesta quinta-feira (1º), pelo sentimento de cautela global com mercados digerindo novos dados do mercado de trabalho nos Estados Unidos, além das decisões sobre juros pelo Federal Reserve (Fed) e Banco Central (BC).
O clima de aversão ao risco também levou à nova alta do ouro, que nas negociações intradias chegou a bater novo recorde, além de derrubar o mercado de criptoativos.
O Fed manteve as taxas inalteradas no maior patamar em mais de duas décadas, mas abriu a porta para um possível início de ciclo de cortes a partir de setembro.
Por aqui, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC congelou pela segunda reunião seguida a Selic em 10,5% ao ano, mas publicou um tom mais duro sobre fatores de risco. Apesar da mudança na comunicação, a maior parte do mercado descarta aumento dos juros nos próximos meses.
Diante destas pressões, o dólar encerrou a primeira sessão de julho com salto de 1,43%, negociado a R$ 5,736.
Esta é a maior cotação de fechamento desde 21 de dezembro de 2021, quando encerrou a R$ 5,739. Em 2024, o dólar acumula valorização de 18,24%.
Seguindo a queda generalizada em Wall Street e praças da Europa, o Ibovespa encerrou o dia com perda de 0,2%, aos 127.395 pontos.
O desempenho também foi pressionado pela queda das maiores companhias da bolsa brasileira. Vale (VALE3) perdeu 2,24% após resultados mistos do minério de ferro, enquanto Petrobras (PETR4) recuou 1,52%, em linha com nova queda do petróleo após recuo de 4% na véspera.
Novos dados do mercado de trabalho publicados nesta quinta-feira fortaleceram o temor dos mercados de que a reversão da queda dos juros prevista pelo Fed em setembro venha tarde de mais para evitar maiores impactos na economia norte-americana.
O número de trabalhadores nos EUA que entraram com novos pedidos de auxílio-desemprego aumentou para um pico de 11 meses na semana passada, o que sugere um certo afrouxamento do mercado de trabalho, embora eles tendam a ser voláteis nessa época do ano.
Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego aumentaram em 14.000 na semana encerrada em 27 de julho, para 249.000 em dado com ajuste sazonal, o nível mais alto desde agosto do ano passado, informou o Departamento do Trabalho nesta manhã. Economistas consultados pela Reuters previam 236.000 pedidos para a última semana.
O dado veio um dia depois de o Fed sinalizar para a queda dos juros a partir de setembro. Na véspera, a autoridade monetária manteve as taxas de juros entre 5,25% e 5,5% – a maior em 20 anos.
O presidente do Fed, Jerome Powell, pontou que qualquer enfraquecimento significativo no mercado de trabalho seria preocupante.
“Se virmos algo que pareça uma recessão mais significativa, isso seria algo ao qual teríamos a intenção de responder”, disse após a publicação da manutenção dos juros.
Chris Zaccarelli, diretor de investimentos da Independent Advisor Alliance, pontua que as previsões apontam para a queda de 0,25 ponto percentual (p.p.) a partir da próxima reunião do colegiado, porém, o corte pode ser maior caso haja piora no cenário.
“No entanto, a única coisa que faria com que o Fed fizesse cortes mais dramático seria se tivéssemos uma deterioração material no mercado de trabalho”.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) manteve os juros inalterados no patamar de 10,5% ao ano, conforme decisão publicada nesta quarta-feira (31).
Para analistas ouvidos pela CNN, o tom traz recado mais duro da autoridade monetária.
Em comunicado sobre a decisão, o Copom explica que votou pela manutenção “destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela”.
Igor Rocha, economista-chefe da Fiesp, destacou que o comunicado desta quarta-feira está em tom mais duro. Ele aponta que o Copom busca “um cenário mais restritivo para desacelerar a economia”, em meio a riscos inflacionários como o mercado de trabalho aquecido.
Na mesma linha, o economista-chefe do Banco Master e professor na FGV, Paulo Gala, aponta que os motivos de os juros não terem caído refletem o momento delicado em que “a inflação está indo acima de 4%, a expectativa também acima de 4%, e a taxa de câmbio, em desvalorização”.
Fonte: CNN com Reuters