O dólar recuou para próximo de R$ 5,70 e o Ibovespa estendeu as perdas da véspera nesta sexta-feira (2), com a ampliação do sentimento de cautela global, enquanto analistas passam a enxergar sinais mais fortes de recessão nos Estados Unidos para os próximos meses.
Novos dados do mercado de trabalho publicados mais cedo reforçaram o temor dos investidores de que a possível queda dos juros a partir de setembro, como sinalizado pelo Federal Reserve (Fed) nesta semana, venha tarde de mais para evitar um “pouso duro” da economia.
O mau humor global ainda é reforçado pela escalada da tensão no Oriente Médio e sinais de dificuldade da China em reverter quadro de desaceleração econômica.
O clima negativo já visto na véspera se prolongou na última sessão da semana, com perdas generalizadas em Wall Street, Europa e Ásia.
O principal índice do mercado brasileiro fechou a sessão com perda de 1,21%, 125.854 pontos, com pressão negativa das principais companhias do Ibovespa.
A Petrobras (PETR4) recuou 3,01%, em linha com novo tombo do petróleo no mercado global, enquanto a Vale (VALE3) perdeu 1,39%, refletindo cenário misto do minério de ferro nos contratos globais.
O desempenho desta sexta fez o Ibovespa fechar a semana com queda de 1,28%, o terceiro período seguido de retração.
Após bater a máxima desde dezembro de 2021 na véspera e manter a escalada até próximo de R$ 5,80, o dólar perdeu força durante a tarde e encerrou a sessão com perda de 0,44%, negociado a R$ 5,710, perto das mínimas do dia.
Na semana, a divisa norte-americana acumulou valorização de 0,93%.
Dados do mercado de trabalho nos EUA publicados quinta e sexta-feira dispararam o gatilho no mercado de que a maior economia do mundo caminha para uma recessão em reflexo de uma política monetária que manteve os juros elevados no maior patamar em mais de duas décadas.
“A gente via um discurso de soft landing, um pouso suave em relação à desaceleração da economia, mas isso pode estar se invertendo para um hard landing”, explica Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital.
A economia dos EUA adicionou apenas 114.000 empregos em julho, de acordo com dados da Secretaria de Estatísticas Trabalhistas dos EUA (BLS) divulgados na sexta-feira.
Isso está bem abaixo das estimativas dos economistas de 175.000 empregos adicionados. A taxa de desemprego subiu de 4,1% para 4,3%, acima das expectativas de que ela se mantivesse estável.
Os dados de quinta-feira revelaram que os pedidos de auxílio-desemprego pela primeira vez aumentaram na semana passada para sua maior contagem desde agosto passado, enquanto o número de pedidos feitos por pessoas que receberam benefícios de desemprego por pelo menos uma semana saltou para seu nível mais alto desde novembro de 2021.
Em outro lugar, novos dados do Institute for Supply Management revelaram que a atividade manufatureira dos EUA caiu em julho em relação ao mês anterior, marcando o quarto mês consecutivo de contração.
“Esses números refletem uma forte desaceleração nas contratações, confirmando a fraqueza que vimos nos dados de reivindicações de ontem. O mesmo Fed que estava atrás da curva na inflação pode agora se encontrar atrás da curva lutando contra uma desaceleração”, escreveu David Russell, chefe global de estratégia de mercado na TradeStation.
O clima de temor derrubou mercados ao redor do globo nesta sexta-feira. Em Wall Street, o Dow Jones perdeu 1,58%, enquanto S&P 500 e Nasdaq recuaram 1,9% e 2,53%, respectivamente.
Na Europa, o índice Stoxx 600, que reúne as principais empresas do continente, perdeu mais de 3%, enquanto a bolsa japonesa despencou 6%, o pior desempenho em um dia desde a pandemia.
As perdas foram especialmente duras para setor de tecnologia, que também é contaminado por balanços trimestrais pouco animadores publicados nos últimos dias.
As ações da Microsoft caíram cerca de 4,5% esta semana após não atingirem as projeções para sua receita na nuvem.
As ações da Apple, que relatou lucros em linha, mas não atingiu as expectativas de vendas na quinta-feira à noite, subiram 2,8%. A Amazon divulgou uma previsão de receita decepcionante durante seus resultados trimestrais. Suas ações estão cerca de 9,4% mais baixas esta semana.
O desempenho global também foi reforçado por novos sinais de fraqueza da economia da China e descrença dos investidores de que os estimulos de Pequim sejam o suficiente para virar esse cenário.
Dados do setor imobiliário, um dos pilares da economia do gigante asiático, sugerem que o setor permanece em má forma, aumentando a pressão sobre as autoridades para tomarem ações mais ousadas para enfrentar a situação.
As transações nas 100 maiores incorporadoras imobiliárias do país caíram 20%, para 279,1 bilhões de yuans no mês passado, em comparação ao ano anterior, equivalente a cerca de US$ 38,7 bilhões, ampliando a queda de 17% vista em junho.
Além disso, tivemos aí um aumento dos conflitos no Oriente Médio, entre a Irã e Israel, o que acaba trazendo impacto significativo no preço das commodities quando a gente olha o cenário econômico global”, complementa Iarussi.
Fonte: CNN com Reuters